sexta-feira, 4 de setembro de 2009

o blogue é meu!

Pois é. é meu e eu não trabalho na área e por isso não tenho que ser politicamente correcta!
Por isso vou aqui falar da entrevista da Adelaide de Sousa à Caras sobre o parto do seu filho Kyle. Se ela não vê mal em falar em praça pública do que (ela acha que) aconteceu, eu ainda menos!

Tivemos a mesma parteira e conheço a sua doula. Sei que as pessoas mudam, que nenhuma mulher ou parto são iguais, mas acho esquisito algumas coisas que foram ditas na entrevista relativamente ao atendimento...

Fico com pena que ela não tenha tido a experiência com que sonhava. Ainda mais pena tenho, que o medo que sentiu (e que provavelmente fez com que ela não produzisse oxitocina, e sim adrenalina) e que todos dizem que ela devia ter tido em quantidade suficiente para não fazer o que fez, a façam ignorar tudo aquilo em que acreditou durante meses: que o parto domiciliar assistido é algo seguro e vantajoso para o bebé e para os pais. Continuo a afirmar que o parto é fisiológico e não deve ser considerado patológico por rotina. Já há dois estudos (2008 e 2009) que indicam que para gravidezes de baixo risco, o parto em casa assistido por um profissional de saúde traz menos riscos que o hospitalar.

A questão é que a gravidez dela deixou de ser de baixo risco... Penso que aos 40 anos, com 42 semanas de gestação, falta de alguns exames e a bolsa rota por mais de 24h eram mais que factores para pôr o parto domiciliar de lado... Mas essa era uma situação a ser analisada por ela, pela família e pelos profissionais de saúde que a seguiam tendo em conta todos os exames e análises que fossem necessárias.
Tal não invalida, obviamente, que o atendimento hospitalar seja necessário: em muitos casos, este é um deles, os médicos, hospitais e procedimentos SALVAM vidas e estão cá para isso mesmo! Ainda bem que foi bem recebida e que não a discriminaram (como acontece a algumas parturientes que tendo que seguir por precaução para o hospital depois de tentativa de parto domiciliar, ainda são maltratadas e enxovalhadas pelas equipas médicas).

Não conheço os contornos do caso, mas parece-me que se esperou demasiado tempo para tomar a decisão de ir para o hospital, o que não parece de todo a atitude que a pessoa que a atendeu costuma ter. Eu também fui atendida por essa pessoa em Março deste ano, quando tive a minha filhota, tal como muitas outras mamãs que também já foram atendidas por ela, nas nossas respectivas casas, em experiências gratificantes e muito boas! Também conheço histórias de mamãs que começaram o parto em casa assistidas por essa pessoa, mas que tiveram que ser deslocadas para o hospital - a decisão foi sempre tomada atempadamente quando ainda não implicava risco para mãe ou bebé... Seja em casa ou no hospital, o parto não é isento de riscos, e seja qual for a opção tomada, temos que aceitar que as coisas podem não correr como planeámos...

Acho estranho ela dizer que não lhe foi feito o teste para ver se tinha infecção: isso é feito às 36-38 semanas, já para despistar possíveis problemas no parto. Acho estranho referirem que não houve monitorização: a nossa parteira leva sempre com ela tanto o CTG como o doppler e verifica regularmente a pulsação da mãe e bebé! Acho estranho terem achado esquisito ela "ficar com uma cara distorcida e em sofrimento" "sem acesso a medicação para as dores": a doula deve-lhes ter explicado que 1) o parto só muito raramente é isento de dor e 2) em casa não há epidurais... O que esperavam eles?

É certo que tudo é ainda muito recente e ambos os pais parecem ter passado por uma experiência muito traumática, mas acho estranho que tenham "deitado fora todos os livros e coisas sobre o parto em casa"... Lá por ter tido uma má experiência, certamente não podem ignorar que havia factores de risco naquele parto, que nem sequer se põem noutros casos! Lá por o deles ter corrido mal não podem ignorar que a maior parte deles corre bem...

Também me parece que não estavam emocionalmente preparados para um parto domiciliar: em especial o pai, que nessas alturas deve tentar manter a calma e transmitir segurança à grávida. Se eu visse o meu marido desatar a chorar em aflição durante o meu parto, obviamente que ainda ficaria mais preocupada! No fundo, no fundo, não acreditaram ser capazes e o medo e as horas que passavam tornavam isso cada vez mais real...

De qualquer das formas ela passou por muito e espero que o Kyle traga toda a felicidade para a sua nova família e que a Adelaide cicatrize as feridas do parto: físicas e emocionais.

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