segunda-feira, 1 de agosto de 2011

E quando não se pode evitar uma cesariana?

Mais de 30 em 100 bebés nasce desta forma nos hospitais públicos, e supõe-se que mais de 80 em 100 nasçam também desta forma nos hospitais privados, hoje em dia, em Portugal.
Não quero escrever sobre quando as cesarianas são ou não são necessárias.
Há realmente alturas em que salvam vidas. De outras vezes, nem por isso.
São números necessariamente diferentes dos de há duas dúzias de anos atrás, e certamente diferente do que se fazia há 50 anos atrás. De tal forma que até já há a cesariana "natural", o que a mim me parece um contra-senso, mas é na realidade a humanização da cesariana.
E será que estatisticamente os resultados mudaram muito? (excluindo obviamente o desfecho negativo de outras intervenções altamente em voga há 20 ou 30 anos como o forceps e as ventosas)

Outra questão é o signo astral de uma criança que não escolheu a sua data de nascimento: o da data prevista ou o da data em que foi retirada do útero?

É interessante pensar que quase metade da população ocidental "nasce" desta forma, mas muito pouca informação está disponível sobre como ajudar o bebé a processar esta informação... sim, para a mãe já vai havendo grupos de apoio, explicações online, etc. Mas e para o bebé? Um ser que já sente, mexe, respira, e é, sem qualquer aviso, "arrancado" à Casa que sempre conheceu?



Numa pesquisa rápida encontrei um site: http://www.eheart.com/cesarean/heal.html que se dedica a ajudar as pessoas que nasceram por cesariana ou que têm filhos que nasceram por cesariana. Sei que parece rídiculo quando se pensa nisso à partida - então mas na cesariana o bebé não "sofre" menos?, não é mais rápido?, não fica tão sujo?, etc - , mas conheço várias pessoas que nasceram de cesariana que fizeram sessões de Rebirthing e perceberam que para elas foi de facto uma experiência traumática e que pode influenciar a forma como elas próprias virão a parir ou a maternar.
Aqui há outro artigo interessante sobre como a forma como nascemos pode influenciar a forma como vivemos e até como morremos! ("Birth, Love and Death", Nick Owen)

O bebé tem um papel tão activo no parto como a mãe: é ele que dá início ao trabalho de parto quando finalmente os seus pulmões amadurecem e enviam um sinal ao cérebro da mãe, que faz segregar hormonas que iniciam as contrações. Ele também faz força, roda, e volta a rodar para sair. A passagem pela pélvis ajuda-o a ter os seus pulmões comprimidos para, ao sair, dar aquela primeira respirada e ao mesmo tempo, o seu corpinho esterilizado ser colonizado por todas as bactérias da sua mãe, para as quais ele terá defesas e que impedem que outras desconhecidas o invadam. Isto sem falar sequer no papel emocional: muitos bebés recusam-se a ficar cefálicos ou mesmo sair quando sentem que a sua mãe tem medo de dar à luz. Eles têm um papel altamente activo no parto, apesar de tal não ser reconhecido.

Por isso, quando a cesariana tem que acontecer:
Como preparar o bebé?
Como garantir que os momentos depois são integrados pelo bebé?
Que a amamentação corre da melhor maneira possível?
É preciso dar muito mais apoio às mulheres que têm que se submeter a uma cesariana...

A mãe pode preparar-se, ficando calma e interiorizando o que se está a passar. Pode falar com o bebé e explicar-lhe que ele terá que sair mais cedo que o previsto mas que ela vai continuar ao seu lado. Pode fazer meditações em que visualiza o processo cirúrgico e o explica ao bebé.

Há uma série de procedimentos que quem sabe que vai ser submetido a uma cesariana pode tentar que sejam efectuados para minimizar o choque para o bebé (os conselhos seguintes foram dados por uma psicologa pre e perinatal americana, Carrie Contey):

Os pais podem delinear um plano de parto com algumas coisas que gostariam de ver respeitadas:
- presença do acompanhante
- silêncio durante o procedimento (i.e., conversas desnecessárias/inoportunas)
- reduzir as luzes durante a remoção do bebé (ou tentar que não incidam na cara)
- permitir, se a mãe desejar, que a mãe observe o momento em que o bebé é retirado, baixando o pano cirúrgico.
- adiar os procedimentos (injecções, colírios, pesagem) e colocar imediatamente o bebé no peito da mãe para o primeiro contacto pele-com-pele
- incentivar a amamentação na primeira hora de vida (ou assim que for possível para a mãe). Mais sobre isso aqui.
- atrasar o corte do cordão (eu acrescentei esta)
- durante a intervenção: a mãe deve ter alguém que lhe relate o que está a acontecer para que ela possa visualizar isso e transmitir ao bebé essa informação para que ele compreenda porque a mãe está a sentir determinadas emoções e que elas não são causadas por ele, mas por acções externas a ambos. Fazer passar se possível, que estão num local seguro, e que vai ficar tudo bem e estarão juntos em pouco tempo.
- Pai ou acompanhante: ficar com o bebé e tentar manter contacto físico com ele após o nascimento. Tentar ficar o mais calmo possível pois o bebé acabou de fazer uma transição muito rápida. Isto vai facilitar a ambientação do bebé às variáveis envolventes e a sua resposta às mesmas. Enquanto a mãe estiver no recobro tentem descansar pois isso fará com que quando estiverem reunidos haja mais energia.
Finalmente no quarto, concentrem-se (os pais) nos sons emitidos pelo bebé e no contacto visual. Insistam no contacto pele com pele sempre que for possível. O mais importante e concentrarem-se em sarar a ferida e descansar o suficiente para poderem ter alta rapidamente e regressar a casa.

Enquanto não tiverem alta: descansar, alimentar-se devidamente, e a mãe deve fazer o levante assim que se sentir capaz (vai ajudar a reduzir o inchaço e a pôr os intestinos a funcionar), resguardem-se para ficarem melhor depressa.
Quando a mãe estiver bem calma e consciente, e o bebé parecer estar num estado de alerta e quietude, pode tentar lentamente contar-lhe a história do seu nascimento e reconhecer de que foi uma maneira muito rápida de vir ao mundo.
- se houver irmãos mais velhos, deixá-los visitar assim que tenha conseguido descansar.

- Ao chegar a casa, a mãe deve descansar BASTANTE. A tendência é para voltar ao dia-a-dia o mais rapidamente possível, mas deve lembrar-se que acabou de ter um bebé e também uma grande cirurgia. Deve focar-se em recuperar-se, criar uma ligação ao bebé e descansar. Vai ter muito tempo para "correr a maratona" nos anos que se seguem. Deve deixar-se ser cuidada pelos mais próximos enquanto puder: comida, limpezas, roupa suja, recados...
(quanto mais descansar, mais leite e paciência terá: esta também fui eu que acrescentei)

- Se houver uma criança mais velha, deve-se planear um tempo especial por dia todos os dias só para ela, com bastante contacto, olhos-nos-olhos, e conversação. Atenção singular e total é que a criança mais desejará da mãe.

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