sábado, 18 de fevereiro de 2012

O plano de parto

E eis que me apercebi que nunca tinha escrito um post sobre esta importante ferramenta.
Não só pela importância que pode ter ao nível do parto, mas também da vivência da gravidez, pois auxília a futura mãe e o futuro pai a verem que opções têm disponíveis, a saberem o que esperar e o que não esperar durante o decurso do parto, a familiarizarem-se com terminologia e procedimentos. Tal acaba por deixar claro o que pode passar-se no parto, o que acaba por tranquilizar em certa medida, pois acaba com o desconhecimento daquele processo fisiológico.
Façam o vosso plano de parto, quer queiram um parto domiciliar, quer queiram um parto hospitalar, olhem, nem que seja só para vocês consultarem. Depois, apresentem-no e discutam-no com o vosso obstetra ou parteira, por mais "vergonha" que sintam (é melhor antes que ter surpresas na hora H). É um direito da mulher discutir os seus desejos para o momento do parto com a equipa que a vai apoiar.

O que é o plano de parto?
O plano de parto é um documento que ajuda os pais a tomar consciência das várias fases do parto e do que acontece em cada uma. No plano de parto podem ser exploradas as diversas opções disponíveis para a mamã nos vários cenários dos vários estágios de parto.
Pode ser apresentado e discutido com o staff hospitalar para ver o que pode ou não ser feito durante o trabalho de parto e parto de acordo com as expectativas da parturiente.  Para o pessoal que vai acompanhar a parturiente, o plano de parto sensibiliza-os para quais são as coisas que a mamã quer ou não quer que lhe façam durante o evento. É muito importante para ambas as partes e também que seja discutido entre ambas as partes para chegar a um consenso, pois geralmente nem sempre é possível respeitar todas as preferências, especialmente num parto hospitalar. Geralmente o plano de parto, depois de discutido com o pessoal de assistência ao parto, é modificado e finalmente enviado à  direcção do hospital para que remeta uma declaração em como o aceita respeitar (ou não). Ambos os documentos devem ser então anexado ao boletim da grávida e ao seu processo no hospital (se for o caso), para quando chegar a hora, a equipa que a atender se inteirar dele.

Porquê fazer?
Para além do simples facto de que ajuda a estruturar na mente do casal as várias fases do trabalho de parto, do que acontece em cada uma e quais as respostas que podem ter face às várias sensações e intervenções; é importante para o casal perceber qual é a política de actuação da instituição que escolher para ter o seu bébé e quais são na realidade as possibilidades durante o parto, pois nem todas as maternidades praticam o resultado das mais recentes evidências científicas e com alguma persistência e troca de ideias, pode chegar-se a um consenso...

"A gestante/parturiente tem o direito de participar das decisões que envolvem seu bem estar e o do bebê que ela está gestando, a menos que haja uma inequívoca emergência médica que impeça sua participação consciente. Ela tem o direito de saber exatamente os benefícios e prejuízos que cada procedimento, exame ou manobra médica pode provocar a ela e/ou ao seu bebê." (Amigas do Parto)

Links para saber mais sobre o plano de parto:
- http://www.amigasdoparto.com.br/plano.html
- http://www.despertardoparto.com.br/Home/Oque%C3%A9PlanodeParto/ModelodePlanodeParto/tabid/376/Default.aspx
- http://www.inutero.pt/UserFiles/File/artigos/nascimento/Plano%20de%20Parto.pdf
- http://assets.babycenter.com/ims/Content/birthplan_pdf.pdf

Deixo o plano de parto que elaborei para o parto da minha filha:

O nosso Plano de Parto [em condições consideradas normais]:

Sabemos que o evoluir do parto depende sempre do estado corrente do duo mãe-bebé, no
entanto, em condições “normais” as nossas preferências em relação ao parto e puerpério estão
aqui resumidas. Sempre que elas não possam ser seguidas, gostaríamos de ser sempre
previamente avisados e consultados a esse respeito.

… gostaria de ter sempre:
. a presença de um dos acompanhantes (OMS:essencial na diminuição do stress e melhor desempenho no parto)
. a certeza que qualquer procedimento médico a executar, a mim ou ao bebé, me seja explicado com clareza antes da sua execução (ou ao acompanhante, caso eu não esteja consciente)
. a permanência num único espaço onde possa passar por todas as fases do parto (aconselhado pela OMS), na companhia do meu marido e Doula – ou na impossibilidade dos 2, de um à minha escolha.

… internamento:
. realização de tricotomia e clister, apenas se solicitada
. perfusão intra-venosa apenas na absoluta necessidade de administrar fármacos
. utilização de ocitocina ou outro indutor artificial, apenas com a minha concordância
. evitar a ruptura artificial das membranas (amniotomia) (a OMS não vê vantagens neste procedimento)

… durante o período de dilatação:
. presença de 2 acompanhantes no quarto (marido + doula ou um dos pais)
. monitorização intermitente (OMS recomenda apenas m. contínua em caso de complicações)
. uso de medicação para o alívio de dores: apenas se solicitada (no caso de epidural: analgesia e não anestesia)
. permissão para a aplicação de metodologias não-farmacológicas de alívio das dores como:
- piscina de parto (165x135x65 cm) e/ou duches
- bola de parto e massagens (dadas por um dos acompanhantes)
. evitar exames vaginais (toques): quando necessários, realizados sempre pelo mesmo profissional de saúde
. permissão para deambular no quarto (OMS: liberdade de posição/movimento e não-permanência posição supina)
. possibilidade de ingestão de água
. luz suave e o máximo silêncio

… na altura da expulsão:
. poder tocar no cocuruto do bebé assim que ele coroar
. gostaria que respeitassem o ritmo natural do t.p. não apressando a expulsão (por indução química, manobras físicas ou instrumentos). Agradeço sugestões, mas quero fazer força apenas quando eu sentir que devo.
. liberdade de posição: aquela em que me sinta mais confortável - de pé, lado, cócoras, etc -, desde que em segurança
. uso de lubrificação para o períneo por forma a evitar a episiotomia – esta feita apenas com a minha
concordância. (desaconselhada pela OMS pois pode provocar complicações pós-cirúrgicas desnecessárias)

Se, por algum motivo tiver que ser submetida a uma cirurgia cesariana, gostaria que o meu marido ou um dos meus acompanhantes pudesse estar presente. Preferia neste caso analgesia epidural e narração dos acontecimentos. Assim que o bebé nasça gostaria de o ver e saber que o acompanhante está sempre com ele até eu poder ficar com ele.

… após o nascimento (vaginal ou cesáreo):
. poder segurar o bebé contra o meu corpo assim que nasça (A OMS aconselha a que o filho entre rapidamente em contacto com a pele da mãe para prevenir a hipotermia do bebé e “para dar início à amamentação na primeira hora”)
. garrotamento do cordão umbilical apenas quando este parar de pulsar, se possível pelo meu marido
. recolha de células estaminais, com o auxílio do pessoal médico após o garrotamento/ corte do cordão umbilical, mas de preferência antes da expulsão da placenta
. de amamentar o bebé na 1ª meia hora de vida
. possibilidade estar presente durante os procedimentos que lhe forem aplicados (se me for impossível, o pai ou a doula acompanharão o bebé).
. administração de colírio ocular ou pomada oftálmica apenas se a minha flora vaginal tiver bactérias que provoquem conjuntivite gonocócica.
. administração de vitamina K oral;
. gostaria que o vérnix não fosse imediatamente removido e ser eu ou o pai a dar o primeiro banho ao bebé

… dequitadura:
. gostaria de aguardar a expulsão espontânea da placenta, evitando o uso de indutores químicos, e observá-la de seguida.

… até ter alta (de preferência o mais rapidamente possível…):
. desejo beneficiar do alojamento conjunto integral (como descrito pela OMS)
. sempre que o bebé tenha que ser examinado, alguém (eu ou um acompanhante) irá com ele
. gostaria que não oferecessem chuchas ou biberon ao bebé sem o meu consentimento
. gostaria que não fosse oferecido ao bebé qualquer tipo de leite artificial ou líquido – se for essencial que tome suplemento, que seja sempre após tentativa prévia de amamentação, e sempre por copo ou colher
. gostaria que nenhuma medicação ou vacinação fosse dada ao bebé sem o nosso conhecimento e aprovação

[Se por infortúnio o bebé nascer sem vida, após as tentativas de ressuscitação, gostariamos de segurar nele o tempo necessário para nós; Gostariamos de o vestir e de lhe tirar fotografias; Gostaria de guardar recordações, tais como as suas pegadas e cabelos; de sermos visitados pelo psicólogo do hospital; e que o pessoal pertinente discutisse connosco o que aconteceu durante parto e com o bebé.]

Sem comentários: