terça-feira, 20 de março de 2012

Raiva, ressentimento e culpa

Três dos piores sentimentos que nos assolam.
Tentem anotar, por 2 ou 3 dias, quantas vezes sentem algum destes sentimentos...
Todos os dias? Mais que uma vez ao dia?
Agora analisem: em que situações o sentiram?
O que podem fazer para evitar ou mudar esses sentimentos?

Aqui encontrei um artigo muito interessante sobre o assunto: 
http://tinybuddha.com/blog/20-things-to-do-when-youre-feeling-angry-with-someone/

"In the end, we’re the only ones responsible for our mental states, so this is a great opportunity to practice regulating yours."

Tenho visto muitas pessoas com raiva nos últimos dias.
Aconteceu uma situação triste: um bébé faleceu no seguimento de um parto domiciliar.
E agora estão em curso apuramentos quanto à responsabilidade dos intervenientes.

Polémicas à parte, os pais e a família do bébé devem estar devastados e a passar por um processo de luto muito difícil. Neste momento, se tudo tivesse corrido bem, esta bébé estaria ao peito da mãe, sujaria fraldas, teria cólicas, encantaria todos com o seu sorriso... Nenhum pai foi feito para ver os seus filhos morrer... Só posso dizer que lamento, profundamente, o sofrimento por que estão a passar.

E sim, há que apurar responsabilidades.
Mas será justo terceiros acusarem sem apresentar provas? E trazendo a lume ajustes de conta antigos?
E será justo, pela enésima vez, haver encobrimentos? Especialmente quando escudados pelo "sigilo profissional"? [Recordo que o sigilo profissional se deve ao paciente e não ao profissional que o atendeu...]
Será justo haver "difamação" condicionada de uns profissionais e não de outros?

Sinto que muita raiva segue no coração de todas as pessoas que estão a debater este assunto, porque se sentem injustiçados. Uns porque querem preservar as mulheres e bébés de futuros acontecimentos semelhantes, e outros porque querem continuar a providenciar às mulheres e bébés fantásticas experiências que outras mães já passaram.

Há umas semanas postei uma mensagem que abordava as limitações existentes no parto domiciliar em Portugal... Mal sabia eu como isso faria sentido agora...

Há um clima de desconfiança, de raiva, de insegurança que só faz mal às mulheres que vêem o parto domiciliar como uma opção válida e segura. E pior, a guerra aberta entre duas correntes de pessoas que deviam ajudar e informar as mulheres e famílias (as Doulas), nestas situações, só denigre o nome dessa ocupação. Estas trocas de palavras e estas omissões de parte a parte (porque se para umas há secretismo quanto ao nome das profissionais utilizadas; para outras há secretismo quanto aos casos em que houve problemas) só fazem mal ao parto domiciliar em Portugal e dão azo a que os que querem acabar com ele prevaleçam... Se calhar é por isso mesmo que as entidades responsáveis por apurar a verdade se têm mantido tão lentas nas suas apreciações... Possivelmente pensam: "deixem-nos enterrarem-se sozinhos, que depois nós pomos flores na campa...", passe a expressão...

Gostaria que - dinheiros ou filosofias à parte - os profissionais que apoiam o parto domiciliar se unissem e garantissem transparência e idoneidade no processo...
Todos ganhariam com isso.
Vamos acabar com os secretismos e os favoritismos e criar uma rede visível e clara de apoio aos casais que queiram tomar essa opção!

Deixo aqui o mais recente debate televisivo (ou linchamento público do parto domiciliar e da parteira em causa):

Parte 1: http://sic.sapo.pt/programas/boatarde/article1402372.ece
Parte 2: http://sic.sapo.pt/programas/boatarde/article1402371.ece?fb_comment_id=fbc_10150622650242747_21458695_10150622988392747#f5220eeb98db77
(Programa Boa Tarde (SIC), com Conceição Lino)

[deixo uma adenda para 2 situações que achei de EXTREMA desinformação para quem assistiu aos videos: a primeira relaciona-se com as circulares de cordão umbilical - esse grande bode espiatório para tudo o que são problemas no parto: aqui -, e a outra para a distócia de ombros, que desde 1998!!! que está verificada e publicada (aqui) uma manobra (All-fours maneuver) ironicamente desenvolvida ou redescoberta por uma parteira para lidar com esta situação]

Obviamente que a Ordem dos Médicos não vai recomendar o parto em casa... Nem tem que o fazer: ninguém dá um tiro no próprio pé (i.e., perde clientes de propósito). Obviamente que a Ordem dos Enfermeiros que também tem laços às instituições onde a maior parte dos seus profissionais actua, também não vai agora de repente criar um movimento de defesa do parto domiciliar...
Infelizmente, INFELIZMENTE, ambas e quase todos os seus profissionais, não olham para o exterior e vêem o que está a ser feito lá fora. Em como se conseguem baixas taxas de mortalidade e morbilidade excluindo procedimentos rotineiros obsoletos e dando mais liberdade às parturientes... criando condições para que haja FORMAÇÃO e REGULAMENTAÇÃO no âmbito do parto extra-hospitalar (seja em casa ou numa casa de partos) para que haja profissionais suficientes e qualificados para chegarem a tempo e horas e a saber o que devem fazer... (e não, não estou só a falar do caso mediático de que trata a reportagem, mas de outros com outras parteiras que até se prestam a entrevistas e tudo...)

Embora seja um assunto que bate bem fundo em mim (por mais razões que uma), não concordo com o silêncio (e por isso o exponho aqui no blogue), mas também não concordo com o axincalhamento, porque não traz nada de positivo para o resto das mulheres e casais que no futuro, possam querer optar em consciência.
Volto a apelar a que assinem a petição em prol de uma discussão com TEMPO (porque todas as que há são em programas "cor-de-rosa", ou em reportagens fechadas, que não permitem a exploração total do tema... Possivelmente pode não resolver nada, mas um debate no programa Prós e Contras (da RTP) daria mais abertura e visibilidade a esta temática, tão importante no futuro das nossas famílias e do nosso país!

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