Nos últimos dias tem-se assistido à degladiação sobre o mais recente anúncio da Crioestaminal, uma das mais conhecidas empresas de criopreservação de células estaminais em Portugal. Nele, uma criança sentada numa marquesa hospitalar pergunta aos pais se eles guardaram as suas células. Concordo que é uma imagem forte mas confesso que não compreendo o apedrejamento da empresa por parte dos seus críticos mais cépticos e radicais.
Eu não sou cliente dessa empresa, embora tenha preservado as células estaminais da minha filha, nem sequer acredito que venha um dia a usar as células, mas considero-o como fazer um seguro (e hoje em dia fazemos seguros do carro, de vida, da casa, contra terceiros, para a empregada, para o recheio da casa)... Porque não, desde que o processo de recolha respeite mãe e bébé (aguardando o parar de pulsar do cordão e recolhendo as células mais perto da placenta, para que o máximo de sangue e de células vá para o bébé), mais um "seguro"? Sinceramente até me identifiquei bastante com o anúncio, porque foi uma das coisas em que pensei durante a gravidez: o que direi a um filho meu se ele precisar das células e eu lhe disser que as deitei fora? (sim, porque num parto - mais frequentemente no hospitalar que no domiciliar - raramente se recolhem células e muito frequentemente se clampeia o cordão precocemente, isto é, antes de ele parar de pulsar, ou seja, antes de tudo o que deveria ir da placenta pelo cordão para o bébé ter oportunidade de o fazer.
Hoje em dia há vários bancos de células privados em Portugal e um banco público (que está a passar dificuldades). O custo médio de recolha e acondicionamento das células é de 1000€ por 25 anos, mas desconhece-se se as células se conservarão por todo esse tempo. Há também a questão de mesmo que estejam viáveis passado todo esse tempo, o próprio não poder utilizá-las porque a sua quantidade é insuficiente para a sua massa corporal de adulto (supostamente a quantidade recolhida daria para pessoas até 40Kg de peso). O leque de doenças que é tratável com sucesso é muito reduzido mas continua a ser feita pesquisa diariamente. O banco privado tem um custo, mas garante que o proprietário tem acesso às suas células (no público, as células são doadas por isso se quiser fazer o resgate, tal não é possível). E como o banco publico não tem capacidade de armazemento de todas as células, muitas delas são descartadas sem sequer avisar o doador...
Não percebo porque oiço falar em manipulação dos pais ou em publicidade enganosa... TODA a publicidade é uma tentativa de manipulação e de "enganar" o cliente a acreditar que o seu produto é o melhor, para vender. Hoje estava a ver um anúncio da MacDonalds na TV. Vocês acreditam mesmo que os hamburgueres deles são 100% de carne de vaca "seleccionada" (e sim, dentro desta categoria cabe muita coisa), "apenas" temperada com sal e pimenta?????? Se sim, parabéns, o Coelhinho da Páscoa e o Pai Natal vão deixar algo no vosso sapatinho nas próximas festividades. Ou não.
É um anúncio. Serve para chamar a atenção e vender um produto. E cabe ao consumidor averiguar da veracidade do mesmo e do que é que não é dito no anúncio.
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