segunda-feira, 18 de junho de 2012

Antes de optar por uma cesariana...

... leia este texto. A sério! (enfatizei algumas frases com bold)

http://ativismodesofa.blogspot.com.br/2012/06/quanta-dor-cabe-em-um-corte-de-cesarea.html?spref=fb

"O primeiro título que havia pensado para esse texto era “eu, que fiz cesárea”, mas refletindo melhor percebi que eu não fiz uma cesárea, fui cesareada.
O pouco do contato que eu tive com informações a respeito de parto normal se deve ao movimento feminista. Confesso que não fui atrás de muita informação, hoje penso que devia ter entrado em grupos de apoio ao parto natural, ido atrás de gente que tinha feito, procurado uma doula, saber sobre a burocracia do plano de saúde e tudo o mais. Mas não fiz isso e essas informações não chegaram sozinhas até mim. Por que? Por que não bastou ficar parada para que um parto natural me fosse oferecido?
A cesárea em compensação enfiou o pé na minha porta. Desde o começo ouvia que ela era o melhor, mais garantida, menos preocupante, trabalhosa, dolorida, “uma benção” alguns disseram. Toda vez que eu dizia que ia tentar parto normal ouvia um “o que?” em resposta, geralmente acompanhado de “nossa, que coragem” ou mesmo “para, você é louca” e chegaram ao absurdo de me responder com todas as letras: “Não faça isso!”.

E foi assim com toda essa falta de informação e de apoio que eu com quase 41 semanas de gestação fui parar em uma mesa de cirurgia para a retirada da minha filha do meu útero. E foi horrível. É até difícil de explicar como me senti, mas vamos tentar:

Depois de anestesiada eu comecei a passar mal, minha pressão caiu, tive ânsia de vômito... e aí passou. Os médicos chegaram, se sentaram e começaram o serviço, enquanto eu deitada, inerte, me mantive pacífica e de mãos atadas (quase que literalmente, com aquele monte de fios, agulhas, máquinas me prendendo) no meu próprio “parto”. Depois que me cortaram foi médico puxando de baixo, anestesista empurrando de cima, todo mundo com suas máscaras de cirurgia se esforçando no propósito de tirar meu bebê do lugar de onde ela não queria sair.

Quando a pediatra a pegou e me mostrou, eu não via a minha filha ali. Eu via um pedaço de mim. E quando digo um pedaço é como um pulmão, uma perna, algo que me foi arrancado e que eu queria de volta. Eu me senti completamente mutilada, invadida, violada. E eu chorei. E não, não foi choro de alegria ou de emoção. Eu chorei de tristeza. Chorei a dor de quem acabou de ser violentada e sabe que agora nada mais pode ser feito, nada vai trazer de volta o momento em que aquilo não tinha acontecido.

Depois a pediatra segurou meu neném no meu peito por algum tempo. E eu sinto que esse deveria ser o momento mais espetacular e indescritível da minha vida. Essa deveria ser a hora da sensação mais arrebatadora que já tive, da transformação, da grandiosidade do meu ser, eu simplesmente não deveria ter palavras para descrever esse momento. Mas eu tenho: A anestesia voltou a me dar uma náusea muito, muito forte e aí eu olhei para a minha filha e disse exatamente “tira ela daqui que eu tô passando mal”.

Depois disso a Rita foi levada e eu sedada e fiquei lá por horas sendo costurada. Quando fui para o quarto ainda não sentia minhas pernas, não podia falar, não podia beber água, não podia levantar a cabeça, qualquer coisa que eu fizesse poderia me causar efeitos colaterais fortíssimos e então eu prossegui inerte durante boa parte do dia.

A lembrança desse dia me dói muito. Sinto uma inveja tremenda quando vejo as imagens de mães com seus filhos sangrando em suas mãos, louquíssimas de hormônios, com uma mistura de choro (esse sim de emoção) e riso, sentindo algo absolutamente indescritível, chega a apertar meu coração.

Ontem a Marcha do Parto em Casa ocorreu em diversas cidades do país. Mas não se enganem pelo nome, não lutamos apenas pelo direito de termos nossos filhos em casa se quisermos, lutamos pelo direito de escolha e, partindo da perspectiva de Gramsci, só há uma forma de alcançarmos esse direito: Com informação. Não há liberdade sem conhecimento.

Não podemos falar em cesárea por opção enquanto vivermos nessa nação cesarista que omite tanto fatos, dados e estatísticas a respeito do parto, quanto suporte e apoio. Não temos condições emocionais ou materiais de escolher um parto normal.

Queremos ser empoderadas novamente, que parem de nos dizer que a dor do parto é como a morte, que não temos força para ela, que não vamos aguentar. Queremos ser lembradas de que o nosso corpo está pronto para o parto, que nós estamos preparadas para isso, nós temos exatamente a força da qual precisamos. Queremos parar de ouvir mitos como “só pode esperar até 40 semanas”, “não dá para fazer parto se o cordão estiver no pescoço”, “ o bebê nasce roxinho porque falta oxigênio” ou mesmo “com parto normal a mulher fica larga” (!!!).

Queremos ser devidamente informadas sobre os maiores riscos de mortalidade materna com a cesárea, sobre a sensação de prazer do parto, sobre nossas reais necessidades. Queremos a possibilidade de ter nosso bebê mamando na primeira hora de vida, do corte tardio do cordão umbilical e do vínculo direto. Queremos ter autonomia para decidir sobre o nosso próprio corpo e o direito de sermos protagonistas na nossa própria vida, inclusive (e especialmente) no momento em que geramos outra vida.

Queremos a informação e o apoio ao parto natural e ativo vindo bater a nossa porta ao invés desse cesarismo que invade a nossa casa.

Ps. E para quem ainda não viu, aqui está o famoso vídeo que fez o Brasil morrer de amor."


1 comentário:

Susana Andrade disse...

No Brasil a cesarianas são um exagero sem comparação... é que não dá para compreender e se uma pessoa decide fazer o que tu fizeste, divulgar um caso que mexeu contigo, às vezes somos bombardeadas com críticas a nós que optámos por parto normal, que cesariana é melhor e sei lá mais o quê... Existem 2 temas que me enervam profundamente: o mito de a mãe 'não ter leite suficiente' e as cesarianas desnecessárias... Nós mulher fomos dotadas de gerar um filho e também de o fazer nascer (complicações podem surgir, é certo, mas nada de exageros...) bem como de o amamentar, que o leite é forte, é fraco, provoca refluxo, e um sem fim de coisas. O leite em pó e de lata deve de ser mais confiável do que o produzido por nós, deve pois!!! (irónica). Eu tive parto normal e levei epidural (aos 6 dedos de dilatação) e foi como se não tivesse levado, nunca deixei de sentir as pernas e as dores sentia-as todas, mas se me perguntares se eu voltaria a repetir, eu voltaria.