quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o Mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.


Luís de Camões


Gosto muito do Luís Vaz e estava a pensar na vida quando me lembrei deste soneto...

Ao chegar à Índia tive a felicidade de conhecer a parte da minha família de quem só tinha ouvido falar.

Receberam-nos de braços e coração aberto e tornaram a nossa estadia lá muito mais acolhedora.


Vi a casa onde o meu pai nasceu e a casa onde a maior parte dos seus irmãos também veio a este mundo. A minha avó teve 7 filhos, todos em casa, com o auxílio de parteiras e família.

O meu pai nasceu na casa dos pais da minha avó, um costume antigo (um exemplo famoso é Maya, mãe do príncipe Sidharta, que o teve a caminho da sua terra natal) que diz que, por a mulher ir viver com a família do marido após o casamento, não tem ainda muita intimidade com a sogra e outras mulheres da casa, vai ter o seu primogénito a casa de seus pais, que a conhecem e a saberão apoiar melhor no momento do parto.

Isto tocou-me muito porque até ser mãe nunca tinha pensado na minha avó a parir :P ou em como isso teria sido para ela...


Imaginei que, nessa terra de tradições seculares, onde muitos costumes ainda estão bem enraízados no dia a dia (reza-se o terço antes do jantar e vai-se à missa quase diariamente de madrugada), a maternidade fosse algo mais intuitivo e respeitado. Ao chegar, tive o gosto de ter nos braços uma bebé com 15 dias de vida e de privar com uma grávida de 30 semanas!

Obviamente que as enchi de questões, só para me deparar com a realidade crua e nua da globalização: ficaram admiradíssimas por ter tido a minha bebé em casa, porque "o local onde se devem ter os bebés é no hospital", mas foram muito respeitosas da minha decisão dizendo que "pois, em Portugal há mais condições para se ter bebés em casa" (o que até certo ponto faz muito sentido). Não consegui saber muito sobre os procedimentos hospitalares porque elas próprias não sabiam ou não conseguiam explicar, mas há epidural disponível (mas pelos vistos não é aplicada rotineiramente) e a indução também não é rotineira...

Outra diferença é a alimentação: vi estupefacta, como um bebé de 15 dias já era alimentado a biberon, e receio que com leite de fórmula... Mas obviamente, guardei as minhas opiniões para mim, porque não conheço o historial e continuei a amamentar a minha filha, relatando os benefícios da amamentação, para espanto de alguns que se admiravam de ela ainda só mamar. Pelo menos não acharam que era grande de mais, pois a maior parte deles ainda guarda na memória o facto de amamentar os bebés até tarde (3-5 anos).


Por um lado a globalização é muito boa, por outro parece que tudo o que é novo, brilha, e as pessoas esquecem-se do valor daquilo que sempre tiveram...

1 comentário:

Romy Maria disse...

Como ando viciada na nivela da noite da SIC também tenho acompanhado essa parte tradicional da India, acho bonito a ida da grávida para casa dos pais para ter o primeiro filho e ali fica, pelo que entendi, uns meses (lembrei-me da tenda vermelha e os 3 meses de "ferias" que as mulheres tinham após o nascimento de um filho).
Voltando a ti, até acho que a tua filha tem mais traços indianos que tu, são ambas muito lindas.

Fico contente que tenhas ido ver onde nasceram as tuas raízes, sabe sempre bem saber essas coisas.

Beijinhos para os 3!

Rosa e Pedro