segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sobre nutrição...

Desde que soubemos que íamos ser pais, há 3 anos atrás, que revimos a nossa postura em relação a quase tudo. A comida não foi excepção.

Embora já tivessemos algum cuidado com a alimentação, evitando alimentos muito gordos ou de preparação elaborada (fritos, refogados), começámos a ter mais cuidado com a ingestão de açucares, melhor hidratação e pensar duas vezes antes de sucumbir à tentação ;)

Entretanto, tendo já a noção que comemos demasiada carne para as nossas necessidades nutricionais diárias (basta ver a dieta portuguesa nas casas comuns há 50 anos, muito mais virada para os vegetais e peixe), e tendo em conta os recursos que se gastam para produzir um quilo de carne (geralmente cheio de antibióticos, toxinas, etc): vejam o filme Food, Inc, que tenho vindo a alterar o nosso plano alimentar familiar. Depois de ter passado uma semana a comer refeições ovo-lacto vegetarianas em Agosto último (cada uma melhor que a outra, por sinal!) e de ter aprendido muitas receitas de forma a variar os ingredientes, sabores e nutrientes que ingerimos, fez-nos sentido alterar a nossa alimentação neste sentido, pela nossa saúde* (visto que consumimos muito mais calorias do que aquelas que gastamos), pela sustentabilidade do planeta e também pela ética (são outros animais que estamos a comer).

Deixámos assim de consumir tanta comida processada, evitar trangénicos e alimentos refinados (farinhas, açúcares), chocolates, natas de origem animal, etc. Li um livro do Francisco Varatojo e tudo parecia fazer sentido: temos intestinos mais compridos que os mamíferos carnívoros pelo que a carne apodrece lá dentro antes de chegar a ser excretada, temos mais dentes dedicados à mastigação do que a rasgar o que indica que estamos mais preparados para comer cereais... Só achei estranho ele referenciar tantos alimentos que não são autóctones (ele aprendeu com a escola Japonesa), pois o que faria sentido era que o nosso organismo estivesse mais preparado para alimentos que são daqui e que já estamos habituados a consumir há vários milénios...

Assim, começámos a comer mais peixe, mais leguminosas e cereais integrais, reduzimos drásticamente a quantidade de carne vermelha (e mesmo a branca, cingia-se a aves, e quase sempre de produção biológica e em regime de campo aberto) e começámos a notar mudanças positivas no nosso metabolismo: continuavamos com energia, mais regularidade na wc, o hálito melhorou, o colesterol reduziu, peso diminuiu, etc...
Até que fui fazer análises ao sangue e me deparei com uma forte anemia. Sim, eu sei que pode ter outras causas e que a culpada não é só a alimentação. Mas depois de conversar com vários médicos e especialistas, recomendaram-me que voltasse a ingerir carne vermelha. E suplementos de Fe? disse eu. Pelos vistos (pesquisem o site do Dr. Mercola), os suplementos de Fe não são facilmente assimilados pelo nosso organismo, reduzem a nossa capacidade de assimilação (o Fe existe em tanta abundância que o corpo não precisa de se esforçar para o assimilar e ainda piora) e desequilibra o racio dos restantes minerais no nosso sangue, nomeadamente o Zn que está em co-relação inversa com o Fe. Para além do facto de que, ok, funciona enquanto o estamos a tomar, mas pouco tempo depois, se o problema causador persiste, os níveis de hemoglobina voltam a descer...

Fora a anemia, o consumo de carne foi também me recomendado porque a Weston A. Price Foundation, supostamente (leiam este artigo) uma Fundação idónea de investigação na área da nutrição tem analisado dados relativos ao consumo moderado de carne de boa qualidade e tem verificado que 1) o Fe presente na carne é muito bem assimilado pelo nosso organismo e 2) as gorduras de origem animal (carne, manteiga) são as mais semelhantes às nossas pelo que o nosso organismo as consegue excretar de forma simples; e 3) a mais controversa: que o colesterol elevado não está associado, como a medicina parece afirmar, ao risco mais elevado de arteriosclerose (ok, aqui até eu desconfio)...

Também me foi dito (penso que também são conclusões da WAPF) que tentasse não associar os hidratos de carbono ao consumo de carne porque isso é que faz o corpo assimilar as gorduras e que nós não estamos preparados para digerir os próprios cereais integrais, necessitando que os animais os processem por nós.

Bolas, isto está difícil. E agora? Veggie ou não veggie?

Venho de uma linhagem de famílias que eram omnívoras, e possivelmente o meu organismo, pelo menos neste momento, precisa que eu o seja também. Nunca tive aquela sensação de rejeição que algumas pessoas relatam quando dizem que deixaram de comer carne durante muito tempo, por isso voltei a comer mais carne. Sei que não é muito, mas tentamos sempre comprar biológico (em respeito aos animais e para a nossa salvaguarda nutricional) e antes de comer, agradeço sempre ao animal que foi sacrificado para que eu possa beneficiar dos seus nutrientes. Pode ser que quando deixar de amamentar e descobrir a causalidade da minha anemia, possa alterar novamente os meus hábitos alimentares...

Já percebemos que a dieta humana nas sociedades ocidentais abusa no consumo de carne e derivados de produtos animais. Por isso o reduzimos. Já percebemos que há uma actividade económica que lucra através da exploração animal, produzindo-os, criando-os e matando-os em condições indignas e ao custo de esgotar e poluir solos e água. Por isso preferimos, quando consumimos, produtos de origem certificada e biológica. Até a ONU já veio pronunciar-se sobre a redução do consumo de produtos de origem animal por todas estas razões (atenção que neste vídeo há uma manipulação da informação no título e na parte final, em que se diz que a ONU recomenda que "a população mundial se torne Vegan e pare de consumir produtos de origem animal", quando na verdade eles apenas alertam para o consumo excessivo e para a redução do mesmo)

Percebi que não deve haver fundamentalismos: geralmente no meio é que está a virtude; e cada metabolismo é único e pode variar ao longo das várias fases da vida, pelo que deve haver uma consciencialização de que pode ser preciso uma adaptação, consoante as necessidades nutricionais do momento.

*tendo em conta os “dogmas” de que a carne tem toxinas, gorduras e baixos valores nutricionais

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