segunda-feira, 18 de julho de 2011

Parto na era do plástico - Michel Odent

Tenho estado a ler o mais recente livro do Obstetra francês Michel Odent, "Childbirth in the Age of Plastics" (desculpa Raquel, não resisti, mas juro que é nas horas vagas). E o que mais me chocou até agora, escrito pelo octagenário e pai dos partos aquáticos, é que chegou à conclusão que a cesariana é tão segura nos dias que correm, como um parto vaginal: "(...) one can claim today that, in modern well equiped and well-organised hospitals in developed countries, the safety of the cesearean is comparable to the safety of the vaginal route." E chega a afirmar que em certos casos, é até preferível a dita a partos prolongados. Enfim. Quase me engasguei quando li (e reli, para ter a certeza). Mas ele não se fica por aí. Ele não pára o seu raciocínio na imediatez do pós-parto. Ele tece considerações muito, muito mais à frente...
Quase 100 em 100 dos partos que ocorrem hoje em dia nos hospitais têm o uso dos chamados "soros", que contêm na maior parte dos casos, oxitocina sintética. Ou seja, quase todas as mulheres são submetidas ao contacto com plásticos directamente na sua corrente sanguínea (e todas as repercussões que daí poderão advir) e são induzidas com hormonas artificias, fazendo com que a segregação das suas hormonas seja obsoleta. E daí? perguntam vocês. Daí que, tal como em muitos casos já estudados, quando o nosso corpo se apercebe que já tem uma coisa, deixa de a produzir. E o facto de podermos vir a deixar de segregar oxitocina é muito, muito preocupante porque esta hormona regula muitos dos aspectos básicos da nossa capacidade de amar. É a oxitocina que activa o reflexo de contracção do útero e de expulsão do feto. É ela que regula a ligação imediata que há entre mãe e bebé, que ajuda no processo de amamentação e até mais tarde no facto de termos prazer sexual. Se deixarmos de segregar esta hormona, prejudicaremos a capacidade de conseguir estabelecer laços uns com os outros. E isso é realmente preocupante para o futuro da Humanidade. Durante o livro ele tece mais considerações relativamente aos partos demasiado intervencionados mas também ao fundamentalismo e radicalismo de alguns grupos a favor do parto natural, por vezes também não fundamentados em evidências científicas (outra afirmação que também me deixou de cara à banda, mas só serve para mostrar que este senhor é uma pessoa idónea e objectiva, porque há na realidade um certo "modismo" do parto natural que pode levar à radicalização da coisa de forma a chegar ao ridículo e voltar a pôr em causa o bom desenrolar do parto). Os últimos capítulos são dedicados a explicar as necessidades de uma mulher em trabalho de parto e a forma como a gravidez e o período que rodeia o parto deve ser tomado em conta: não como uma situação patológica, mas com o suporte de um processo fisiológico. E as necessidades de uma mulher em tp são muito muito tãoooo simples... Mas isso é outro post.

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