quarta-feira, 5 de outubro de 2011

PFN e amamentação

Apesar de bastante desconhecido ou associado a baixas taxas de sucesso ou ainda à pratica por associações religiosas, o planeamento familiar natural quando bem estudado e aplicado é tão ou mais fiável que qualquer outro método de planeamento familiar e permite conhecer o nosso corpo, o nosso ciclo e mantermo-nos afastadas de métodos de modulações químicas artificiais (pílula ou adesivos) ou componentes físicas agressivas (DIU, espermicidas), etc.

Há várias componentes que podem ser avaliadas, como a temperatura basal, a temperatura cervical, a observação do muco vaginal e da cristalização da saliva, para além da simples contagem dos dias. Não só nos permite calcular com bastante exactidão os dias férteis e os dias em que é seguro ter relações se não se desejar uma gravidez, mas também nos ajuda a perceber os sinais do nosso corpo e as nossas mudanças de humor, desiquilíbrios hormonais e emocionais, etc.

Aqui encontrarão muita info sobre o assunto: http://www.tcoyf.com/

Dentro deste tema, ainda há outro sub-tema menos explorado que é a contracepção e a amamentação... Aqui estão alguns excertos do pediatra C. Gonzalez sobre o assunto:

«Há quem tenha ouvido dizer que a lactância é um anticonceptivo e acredita : “voce não pode ficar grávida enquanto dá o peito.” Isso é absurdo, claro que você pode. Se dá o peito 3 ou 4 anos e mantêm relaçõess sexuais e não faz nada para evitá-la, é praticamente seguro que voce ficará grávida durante a lactância.

O que ocorre é que durante a lactância é mais difícil ficar grávida. Não é impossível, mas sim, mais difícil, sobretudo, no princípio.

É lógico que seja assim. Durante milhões de anos, nossos antepassados não tiveram nenhum método anticonceptivo e quase nenhuma restrição sobre a atividade sexual. As mulheres ficavam grávidas simplesmente todas as vezes que podiam. Se uma mulher do paleolítico houvesse tido um filho a cada dez meses desde a pubertade, provavelmente, ela tivesse morrido e todos os seus filhos também. Tinha que exisitr um anticonceptivo natural. A selecao natural escolheu aquelas mulheres que tinham um filho a dois, três ou inclusive cada quatro anos. Desse modo, a mãe podia cuidar melhor dos seus filhos e ao passar do tempo, tinha mais descendentes com menos partos.

Mas hoje em dia existem muitas mulheres que têm o segundo filho ao ano do primeiro, inclusive um pouco antes. Que passou com o anticonceptivo natural? Pois, deixamos de usá-lo. O anticonceptivo era a lactância.

É uma dessas soluções elegantes, aparentemente simples, mas tremendamente adaptáveis, a que chega a natureza quando tem suficientes milhões de anos para trabalhar. Se o anticonceptivo tivesse uma duração fixa: “a mulher não pode ficar grávida durante x anos depois do parto”, não poderia adaptar-se às circustâncias, ao ritmo de desenvolvimento do bebê e sobretudo, à sobrevivência do bebê.

Nos damos como certo que quase todos os bebês sobrevivem, mas durante toda a história da humanidade até o século XX, a mortalidade infantil era altíssima. Todavia, ainda é em grande parte do mundo, para a nossa vergonha. A natureza não lhe interessa que uma fêmea perca sua cria e tarde três anos mais em voltar a ter outra. Se a cria morre, a mãe deve ficar grávida o mais antes possível.

Por isso, o anticonceptivo da natureza não é fixo, senao que depende da lactância: a mulher pode ficar grávida quando ocorre o desmame abrupto, que indica que o bebê morreu, ou com a diminuição gradual da lactância que indica que o bebê já está comendo outras coisas e portanto, já não depende exclusivamente do leite da sua mãe.

Durantes os primeiros meses, quando o bebê mama muito e a todas as horas, a gravidez é quase impossível. À medida que vai diminuindo o número de tomas e a produção do leite, a possibilidade de uma gravidez é cada vez maior. Os bebês bosquimanos Kung mamam com grande frequência, várias vezes por hora, e comem poucos alimentos complementários durante os primeiros anos (que iam comer, vivendo no deserto?). Suas mães ficam grávidas aproximadamente a cada 4 anos. Outros povos que vivem em condições menos adversas, que podem dar mais comida aos seus filhos pequenos, e costumam ter um filho a cada dois ou três anos. Entre nós, muitos bebês comem abundantes papinhas desde os seis meses e muitas mães que dão o peito ficam grávidas antes do ano (e portanto dão a luz até o ano e meio). A mãe que nao dá o peito pode ficar grávida antes dos dois meses.

A diminuição da fertilidade se produz por três mecanismos:

1- Durante muitos meses a mãe que não tem a menstruação. Isso se chama amenorreia, falta de menstruação.

Pode existir menstruacção sem ovulação prévia. Mas o que não pode existir é ovulação sem menstruação posterior. Cada vez que a mulher ovula, só podem passar duas coisas: ou fica grávida ou tem a menstruação em duas semanas. De facto, a mulher que conhece a data da ovulação (porque toma a temperatura) e aos 20 dias não menstruou, pode estar segura de que está grávida. Nas mulheres que têm ciclos irregulares, o que varia é a primeira parte do ciclo, desde a menstruação até a ovulação. A segunda fase, desde a ovulação até a seguinte menstruação é sempre muito constante.

Portanto, se uma mulher tem a primeira menstruação aos oito meses do parto, só existem duas possibilidades: ou bem ovulou só uma vez, quinze dias antes, ou bem não ovulou nenhuma vez. Quanto mais se atrasa a menstruação, mais fácil é que ovule antes. A que tem a menstruação aos 4 meses, é quase seguro que não ovulou. A que tem a primeira menstruação aos 15 meses é muito provável que sim, que ovulou. É possível ficar grávida sem ver a menstruação.


2- Segundo, quando volta a menstruação é provável que existam vários ciclos anovulatórios, sem ovulação. E é mais provável quanto mais cedo volte a menstruação.


3- Terceiro, quando regressa a ovulação é possível que existam vários ciclos inférteis, em que o óvulo fecundado não se pode implantar.

Em alguns casos existe um ou vários meses de insuficiência lútea. O corpo lúteo é a zona do ovário onde acaba de sair o óvulo. Fabrica grandes quantidade de hormônios que permitem que o óvulo fecundado se aloje no útero e comece uma gestação. Quando o corpo lúteo desaparece, baixa a menstruação. Se o corpo lúteo se consume muito depressa e a menstruação baixa antes de dez dias da ovulação, a gravidez nao é possível.

A lactância materna é um anticonceptivo mais usado do planeta e que mais gravidez evita. Na maioria dos casos nao é usado conscientemente, mas contribui a espaçar os nascimentos, diminuindo o total de filhos que tem uma mulher ao longo de sua vida. Centenas de milhões de mulheres não usam nenhum outro anticonceptivo, se em certos países as mulheres deixassem de dar o peito, se produziria um aumento explosivo da natalidade.

(Comer, amar e mamar: pgs. 519-521)

Outra questão seria se a lactância materna se pode usar como anticontraceptivo seguro a título individual. Em 1988, apoiando-se em dados até no momento conhecidos, os especialistas reunidos em Bellagio- Itália, propuseram o método de lactância e a amenorreia- MELA, em inglês - LAM

A mulher tem menos de 2% de probabilidades de ficar grávida se cumpre ao mesmo tempo os seguintes critérios:

1- Seu filho tem menos de seis meses;

2- Lactância materna exclusiva ou quase exclusiva;

3- Ainda nâo voltou a menstruar.

O da menstruação às vezes se confunde no pós-parto. Durante os primeiros 56 dias depois do parto, por definicao não é possível a menstruação. Qualquer perdida de sangue nesse tempo se considera lóquio (perdida de sangue normal depois do parto). Passados os 56 dias, se distigue entre perda de sangue normal (sangrado) ou perda mínima, só umas gotas (manchado). Como uma andorinha não faz a primavera, para chamar de menstruação, necessitamos ao menos dois dias seguidos de sangrado, ou um de sangrado e dois de machados, ou três dias seguidos de manchado.

O da lactância quase exclusiva se refere a algum complemento ocasional- uma vez por semana- e de pequena quantidade, inclusive ainda que esse complemento seja o leite da própria mãe (por exemplo: se vai ao cinema e deixa um pouco de leite na geladeira para que a avó ofereça-o ao bebê).

Quando passam muitas horas entre tomas, a probabilidade de uma gravidez aumenta. Se pode admitir um intervalo de 10 horas ou dois intervalos de seis horas por semana (aquilo de "não sei que me passou essa noite, que dormi de seguida", mas se o bebê dorme sem mamar oito horas cada noite (o que é muito raro, por sorte), o método pode falhar.

Vários estudos posteriores encontram que a eficiência do MELA é ainda maior que o esperado. De 100 mulheres que cumpram os três critérios, provavelmente ficaram grávidas uma ou nenhuma. Algo menos eficaz que a pílula, mas similiar que o DIU e bastante mais eficaz que o preservativo. Além disso, é um método relativamente robusto: inclusive quando não se usa correctamente (quando a mãe dá alguma mamadeira mais da conta, ou quando segue sem ter a menstruação e sem usar outros anticonceptivos até um ano), a porcentagem de gravidez aumenta, mas nao se dispara (ao contrário de, por exemplo, o preservativo: é suficiente com esquecer-se uma só vez.

Quando deixa de cumprir essos critérios, na volta da menstruação (pouco provável antes dos seis meses se a lactância é exclusiva, mas desde logo, pode ocorrer), se começa a dar ao bebê lactância mista ou papinhas, ou se trabalha e portanto, está cada dia muitas horas sem dar o peito, ou quando seu filho complete seis meses, se você nao quer ficar grávida, é melhor que use algum outro método.

O MELA nao é um método para o terceiro mundo. Em diversos estudos, a taxa de erros em Europa ou Estados Unidos é ainda mais baixa que nos países em desevolvimento. Como qualquer método anticonceptivo, funciona melhor quando a mulher tem mais conhecimentos e dispõe de melhor assistEncia profissional.

(Comer, amar y mamar. Madrid: temas de hoy, pgs.521-523)

Tradução: Sandra CP

Fonte: GVA

Revisão: Simone de Carvalho

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