domingo, 22 de janeiro de 2012

Dor silenciosa

Já tinha preparado um post para anunciar que a moyinha deixaria de ser filha única no próximo Verão. Instintivamente, adiei a sua publicação até ao Ano Novo. Não sei porquê, mas fi-lo.
E o Ano Novo, para mim o esperado, o desejado, o promissor 2012, que era por muitos temido, tornou-se no pior início de ano da minha vida. O ano em que finalmente terminaria um capítulo da minha vida, em que daria continuidade a outro capítulo da minha vida com um novo filho, viu-se repentinamente e abruptamente abreviado, cortado, esmagado. Um acontecimento como este raramente é recebido sem dor, mas mais triste ainda foi o facto de ter coincidido com o período Natalício.
Estive grávida desde final de Outubro. Soube-o instintivamente logo no início de Novembro. Sentia uma presença comigo, sentia-me mais mulher, mais protectora. Sentia mais energia. Foi um novo alento para adiantar o meu trabalho de tese. Sentia-me óptima. Tinha algumas dores nos mamilos quando a moyinha no início da mamada, mas nada de especial. Tive alguma perda de apetite e enjoos comparável às que tive quando estive grávida da moyinha. Até ao dia em que comecei a tossir.
Não sei se apanhei no trabalho, se apanhei da moyinha que também começou a tossir uma semana antes de mim, mas o mês de Dezembro foi todo em casa, de repouso, com tosse convulsa e muita expectoração. Nada de febres, nada de tonturas ou dores de cabeça. Só uma tosse que me fazia até vomitar às vezes. E aí começaram as perdas de sangue. Primeiro só um corrimento cinzento, depois uns borrõezitos e mais tarde até coágulos. Depois de 2 idas às urgÊncias que confirmaram a gravidez e a presença de vida no meu útero, foi-me dito que repousasse bastante, bebesse bastantes líquidos e tomasse expectorantes que aquilo passaria sem problemas de maior. Mas não passava.
Dia 13 de Dezembro foi o último dia que vi o meu bebé com vida. O pai chegou atrasado à consulta e perdeu a eco. A moyinha delirou com o exame, como das vezes anteriores. EStava tudo bem, sem descolamentos. Fora um pouco de corrimento com sangue nessa noite, só voltei a perder corrimento com sangue dia 26, depois do fim-de-semana agitado do Natal. Até aí nada de especial fora o agravamento da minha tosse, que desde dia 17 envolvia dores ao respirar e tossir que me fizeram ir de novo às urgências e começar a tomar antibiótico para evitar as consequências de uma possível pneumonia. Tudo calmo até à madrugada de dia 1, em que silenciosamente perdi uma pequena quantidade de sangue vivo. E novamente na madrugada de dia 2. Dia 3 na consulta, o pior foi revelado. Ligeiro descolamento e ausência de frequência cardíaca.

Baque.

Na eco em que iriamos ver o nosso bebé agitar os braços e as pernas para nós, vimos a imagem de um corpo imóvel. No lugar do confortante som wush-wush, um silêncio cortante.
A alma do nosso bébé tinha partido do seu corpo, às 10 semanas (no dia que me apareceram as dores toráxicas), sem aviso...

Deixo o poema com que ia fazer o anúncio.
Depois de um fim de semana de despedida, só me resta dizer... Levar-te-ei sempre comigo, meu doce pequenino...

I have carried you, always.

Before you were conceived, I carried a part of you in my soul. When I met your father, I looked into his eyes and saw the other part of you, and knew you, and prayed that you would come to be.

Before you were born, I carried you in my womb. When you were restless I sang to you and soothed you and told you how I loved you.

When you were born, I carried you in my arms. I kissed you and held you and put you to my breast, so that you would know that there is light and warmth and goodness in the world.

Later, I wrapped you in cloth and carried you close to my heart. I held you close so that you could hear that my heart beats like yours; that we are the same, you and I, and that you would never have to cry alone.

After a while, I carried you on my back, so that you could look at the world with confidence and joy and know that you belonged; so that you could share all of the beauty of the world as an equal to all that live in it.

Now, later still, I carry you when you are tired or fearful. So that you know that no matter how weary you become, or what life holds, you can always depend on others for support and comfort.

When you grow older, my darling, and your adventures take you further from my arms, know that even in my last hour I will carry you.

I will carry you in my heart, for you are always with me.

I will carry you, always.

- Christine Maguire

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