segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Perdidos e achados

Sou incapaz de dizer esta frase se pensar muito.
É a frase mais corriqueira quando alguém sofre uma perda gestacional porque ninguém gosta de dizer: "tive um aborto". é mais eufemístico dizer: "perdi um bébé".
Mas desde que Eu "perdi um bébé", esta frase enerva-me, irrita-me.
Eu não o perdi.
Eu perdi a carteira.
Eu perdi um chapéu-de-chuva.
Eu perdi um autocarro.
Eu NÃO perdi um bébé...
Eu sei exactamente onde ele está/esteve.

É a perda de uma oportunidade.
A perda de algo que não se veio a realizar.
Por isso dói tanto.
Por isso custa tanto a largar.

A nossa sociedade não está preparada para apoiar as mulheres/famílias que passam por este evento. Primeiro, o estigma da morte. Todos sabem que um dia morrem, mas preferem evitar esse pensamento, evitar ir a funerais, hospitais e cemitérios. Evitar a morte. Depois o estigma da morte de uma nova vida. Uma vida que muitos nem reconhecem como tal. "É só uma menstruação mais abundante" diziam-me... Pois não foi.
10 semanas de vida não foram uma menstruação. Foram 2,5cm de tecidos, sangue e fluídos. Lindo, perfeito, com olhos, nariz, boca, mãos e pés com dedos... que ficaram perdidos, para mim, pelo menos por agora.

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