quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Primeiros momentos após a expulsão

Como os últimos posts têm sido um pouco melancólicos, deixo aqui um artigo bonito cujo link gravei há uns meses para partilhar aqui no blog. Este artigo fala sobre a transição materno-fetal para materno-neonatal: http://cord-clamping.com/2011/12/19/mother-baby-after-birth/#comment-149, ou, traduzindo para miúdos, os primeiros momentos após a expulsão do bébé. Deixo alguns excertos (em itálico):

I remember feeling so relieved the birth was over and shocked by the appearance of a new person in the room! It instinctively felt right to pause and watch my baby from above. My instincts to remain upright and leave my baby for the time being would have resulted in a rapid placental transfusion of blood to my baby, as her lungs and other organs transitioned to independent functioning.
(...)
I do wonder if more women gave birth without interference (or out of water maybe), would we be more accustomed to seeing mother-directed third stage of labour - where women might have a short rest before attending to her baby - and have a greater appreciation and understanding of physiological fetal-to-neonatal transition?  

E vocês? como foram os vossos primeiros minutos com o vosso bébé?

Eu lembro-me de duas coisas principais:
- A primeira era que, tal como na maior parte dos vídeos de partos, para mim estava implícito que alguém agarraria o bébé ao nascer. Tal não foi discutido previamente mas eu assumi que a parteira o fizesse, visto que eu estava de quatro dentro da piscina.
- Logo após a expulsão, tive uma sensação de alívio imenso e imensa surpresa por já estar "despachada" que fiquei em "pause" a apreciar o momento até ouvir a minha parteira pedir para eu me virar e pegar na moyinha e aí tudo acelerou.

Não critico de forma alguma a maneira como as coisas foram conduzidas, mas ler este artigo, deixou-me mais descansada em relação algumas reacções que eu não conseguia explicar e deixou-me com vontade de fazer as coisas de outra forma se tiver uma nova oportunidade para isso. O que acabou por acontecer foi que tive que me virar para pegar nela passados poucos segundos e fiquei com ela ao colo. No instante seguinte o pai entrou com a minha permissão para dentro da piscina e a parteira fez as primeiras observações com ela ao meu colo. A câmara estava a filmar esses primeiros momentos pela mão da doula. Tudo como eu tinha previamente pedido. Depois começou a parte que eu não tinha previsto: as contrações dolorosas para a expulsão da placenta, a minha preocupação em ter condições para que fosse feita a recolha de sangue do cordão umbilical, o facto de estar preocupada com o barulho que tinha feito e com os vizinhos, ou a possibilidade de visita inesperada da minha mãe lá a casa (ela não sabia que tínhamos entrado em t.p. nem que iamos ter a moyinha em casa) e não era assim que eu queria que ela soubesse. Penso que terá sido todo este stress que fez com que a minha dequitadura tenha demorado o mesmo tempo que o próprio parto activo (~5h) apesar de a placenta já se ter destacado por completo logo passada 1h do parto da moyinha. Este facto "impediu-me" de estar as primeiras horas a ligar-me com a minha filha (ela mamou a primeira hora, mas depois eu refugiei-me na w.c. porque estava com muitas dores e só queria que a placenta nascesse para poder voltar para ela para que ela não me ouvisse em dores). Por um lado foi estupidez porque eu já sabia que o facto de ela mamar ajudava o útero a contrair e tal até podia acelerar o processo de dequitadura. Ela foi-me trazida várias vezes para mamar, mas o restante tempo ficou ao colo do pai, a chuchar no seu dedo mindinho (o que eu acho que prejudicou e muito as primeiras semanas de amamentação, visto que ela memorizou que só precisava abrir um bocadinho a boca para que o dedo entrasse e quando passava para a mama fazia a pega da mesma forma. Consequência: má pega - dor - fissuras - mais dor - crostas - dor. Mas felizmente com muita paciência, lágrimas e ajuda conseguimos estabelecer uma excelente pega e continuidade na amamentação).  
O médico obstetra Michel Odent refere (penso que é no Childbirth in the Age of Plastics) que os primeiros momentos após o nascimento são muito importantes na ligação progenitora-cria e que a mãe e o bébé devem ter oportunidade de criar esse laço sem a interferência de terceiros ou muita agitação. A parteira pode monitorizar as coisas, mas de preferência de longe, se tudo estiver bem. Ele refere que nesses breves minutos há um fluir de hormonas mais forte que em qualquer momento subsequente e tal deve ser respeitado pelos outros e aproveitado pela mãe para criar o bonding com o seu bébé.

Eu tive mais sorte que a maior parte das mulheres que nem descanso têm e são logo "forçadas" a parir a placenta imediatamente ou vêem os seus bébés retirados dos braços para medir/pesar/limpar... Mas faz pensar que realmente os primeiros momentos entre mamã e bébé deviam ser mais calmos e respeitados pela sua importância num sem número de níveis, em especial por ser um instinto primário de manter o bébé a um nível abaixo do nível da placenta para facilitar a transfusão de mais sangue para o bébé, o que é benéfico para o seu começo de vida.
Eu própria me senti culpada mais tarde: "Como é que eu não peguei logo nela?" E no entanto isso tem uma explicação fisiológica:

It is instinct in some mammals to rest in the first 30s-1m or so after birth – leaving the baby undisturbed during placental transfusion. Do we have these same instincts, to be above our babies, to gaze at and touch our babies, to watch them breathe and check the cord…before lifting our babies up??
I know some women interpret their responses and feelings immediately after birth as somehow “not caring about the baby at first”. Some women feel surprised or even ashamed they were not instantly responsive to their newborn. But what if this ‘rest and be thankful’ stage is protective, provides babies with a faster, less complicated transition, and restored blood volume quicker after birth??

Outro artigo que encontrei entretanto sobre o tema, do Dr. M. Odent:

Their [the midwives] other goal is to make sure the mother is not distracted at all [during the 1st hour after birth] while looking at the baby’s eyes and feeling contact with the baby’s skin. There are countless avoidable ways of distracting mother and baby at that stage. The mother can be distracted because she feels observed or guided, because somebody is talking, because the birth attendant wants to cut the cord before the delivery of the placenta, because the telephone rings, or because a light is suddenly switched on, etc. At that stage, after a birth in physiological conditions, the mother is still in a particular state of consciousness, as if "on another planet." Her neocortex is still more or less at rest. The watchword should be, "Don’t wake up the mother!"

Boas leituras,
m.

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