segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Play... rewind... play... rewind...

25% são 1 em 4 vezes.
É o cálculo estimado de todas as gravidezes que terminam antecipadamente.
Eu já atingi os 66% (2 em 3 vezes) e só o facto de ter tido os meus felizes 33% (1 em 3) que pula para cima e para baixo todo o dia, me consegue animar... E sou muito grata pelo Milagre que foi esse terço :)

Uma gravidez é primeiramente o milagre do Universo. É a promessa de Vida. É um ser humano em potencial. Por isso se pode tornar tão desolador quando essa promessa se quebra. E de cada vez que quebra...

Primeiro, sentimos incredulidade: deve ser engano. Não pode ser verdade.
Depois sentimos impotência e dúvida: o que é que eu fiz para isto acontecer? o que é que eu não fiz para evitar?
Depois sentimos raiva: Porque é que isto me está a acontecer? Porque é que tantas mulheres tiram os seus bébés e eu não consigo segurar o meu? Porque é que tantas mulheres passam a vida a tomar drogas, e tabaco e medicação e têm bébés saudáveis; eu, que tenho tanto cuidado com a alimentação e o estilo de vida, perco os meus?
Depois sentimos tristeza, porque há sempre um vazio que fica, como um nicho sem estátua. Ele está lá, mas sempre que olhamos para ele, vemos que falta qualquer coisa...


Mas essa dor vai passando e há quem volte a ter a vontade de tentar de novo.
"E se da outra vez foi um azar? E se desta vez corre tudo bem?"
E pode correr. Mas às vezes não corre.
É uma sensação esquisita passar por todos os sinais ou esperar ansiosamente por sinais que não chegam numa nova gravidez que se seguiu a uma perda gestacional. Porque todas as gravidezes são diferentes e qualquer coisa nos deixa com a pulga atrás da orelha. "Porque é que não sinto enjoos ainda? porque é que os meus seios não estão doridos? Porque perco (ou não perco) corrimento com sangue?" Mesmo os sinais bons, quando diferentes dos das gravidezes anteriores nos deixam com arrepios.
Temos que confiar.
Confiar que o nosso corpo está a trabalhar connosco. Que está a fazer o melhor que sabe para nós.
Ficamos com medo de tirar fotos da barriga, ficamos com vontade de explodir de felicidade e contar aos 4 ventos mas guardamos para nós porque ainda é cedo.
Melhor aguardar. Mais um bocadinho.
Cada eco é um martírio. "Será que desta vez ainda vou ouvir o seu coração? será que está tudo bem?"
E depois o alívio. Está tudo bem. E respiramos fundo por mais 3 dias. Depois começa a dúvida de novo. E repetimos as afirmações: o nosso corpo é sábio.
Depois vem o dia em que sabemos que algo não está bem, o dia em que confirmamos que não está mesmo nada bem. O dia em que sabemos que a promessa se quebrou.
Os dias seguintes em que sentimos pontapés, mas sabemos que não podem ser reais; em que sentimos enjoos e uma fome enorme, mas sabemos que são só os efeitos das hormonas que ainda correm no nosso sangue; os mamilos escurecidos, mas são só restos visíveis da passagem de outro ser pelo nosso corpo...
Chega a altura de contar a quem confiámos o segredo que afinal a promessa não se cumpriu, e observar o ar de tristeza e desconforto a formar-se na cara de quem nos ouve.
O momento em que nos despedimos de Alma que nos preencheu com um "Desculpa, não consegui."
Depois, se a mulher conseguir esperar, vem o momento fisiológico da despedida. Em que o corpo finalmente se apercebe que tem que libertar aquele pequeno corpo inanimado que contém. O útero chora lágrimas de sangue. Chora, chora, e depois cala-se.
E vem o silêncio.



Sem comentários: