sexta-feira, 20 de junho de 2014

A caça às "bruxas" já começou...

Mahatma Gandhi dizia:
"Primeiro eles ignoram-te, depois eles riem-se de ti, depois eles lutam contigo, depois tu vences"

 

Quando o modelo de parto hospitalar estava bem instituído no final da década de 80 e 90, a tecnologia foi "sacramentada", o hospital foi "entemplado", e o Sr. Dr. foi "endeusado". A mulher grávida e o seu bébé passaram a ser infantilizados, coitados, porque o que sabiam eles sobre esse fenómeno estranho e perigoso que é nascer? 
Aliás, muitas dessas mulheres, longe do ancestral modelo matriarcal de parturição, já nem queriam saber visto que as histórias terríficas de nascimentos com desfechos horríveis ou de salvamentos milagrosos por parte dos profissionais, passaram a fazer parte do seu subconsciente e do seu dia-a-dia, nas conversas com familiares e amigas, nos livros, nos filmes... "O melhor é nem saber", "o melhor é fechar os olhos e esperar que mo ponham nos braços", "vou mas é concentrar-me no enxoval"... 
Mas isso está a mudar. 
A forma como se nasce está a mudar. Especialmente fora de Portugal. O modelo tecnocrático está em decaímento, e cada vez mais a mulher (ou melhor, o casal) e o bébé são os reais protagonistas. Tudo assistido com a mais recente tecnologia, mas em que esta não é mais importante que os intervenientes.
Nascimentos "humanizados", chamam-lhes.
Chamem-lhes o que quiserem, o que interessa é que eles existam. O que interessa é que os intervenientes nesse processo íntimo e sagrado sejam informados, ouvidos e respeitados nas suas decisões. Elas podem passar pelo simples: "desejo ter o meu acompanhante sempre comigo" até ao "quero parir de cócoras, na água, a ouvir Dead Can Dance na minha sala à luz de velas". Se há maneira de o fazer em segurança, porque não???
Porque não, apostar na informação aos casais e na formação contínua dos profissionais? Especialmente quando está mais que provado pelas evidências científicas que os resultados são melhores? Que o custo até é menor?
Grupos de cidadãos informados têm andado nesta labuta diária há mais de uma década em Portugal... Porque não se identificavam com o modelo vigente, ou estavam "marcados" por más experiências ou simplesmente porque tinham tido experiências fantásticas fora do nosso país e depararam-se com este cenário por cá.

Primeiro foram ignorados: "plano de parto? o que é isso?"
Depois foram ridicularizados: "você quer parir como na selva?"
Agora vêem-se cada vez mais casos de retaliação: pessoas que são barradas no atendimento por terem feito queixa de profissionais, grávidas que são forçadas a assinar consentimentos informados individualizados em que se sujeitam a aceitar tudo o que lhes for sugerido durante o parto só porque tiveram a ousadia de apresentar plano de parto na instituição, e até a perseguição de profissionais e equipas inteiras que trabalham com sucesso em instituições para facultar este tipo de atendimento menos interventivo a quem os procura...
Ao contrário de ficar irada, fico contente, porque segundo Gandhi, este é o passo anterior à mudança de paradigmas, pelo que estamos no bom caminho e isso quer dizer que já não falta muito.
Mas para isso é preciso que mais e mais pessoas se consciencializem e contribuam... Nem que seja com uma assinatura, com uma carta...
Já está online a petição para apoiar a continuação dos partos na água no Hospital de S. Bernardo em Setúbal.
Por favor, assinem. Se nos tiram o direito básico de escolher como nascer... que mais nos resta?
http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PartosAguaPortugal

Deixo aqui o apelo de uma das maiores especialistas mundiais em partos na água para esta situação em particular:
e também do médico obstetra Ricardo Jones, do Brasil:

Podem também enviar os vossos apelos e testemunhos para:
- o Gabinete do Utente do Centro Hospitalar de Setúbal (gab.utente@chs.min-saude.pt)
- a Divisão de Saúde Sexual, Reprodutiva, Infantil e Juvenil da DGS (mariacarlos@dgs.pt; no assunto indicar que vai ao cuidado de Lisa Vicente)
- Página de Facebook de apoio aos partos na água em Setúbal: partos.agua@gmail.com

1 comentário:

Susana Andrade disse...

Concordo plenamente ! Eu li a noticia que a Ordem dos médicos discorda dos partos na água porque no ponto de vista deles somos terrestre e não seres aquáticos (não sei se rie se chore quanto a isto) e pede-nos para não inventarmos novas formas de parir que não a 'sacramentada' por eles. Eu por acaso não me sentiria confortável a fazer um parto meu na água, já também pelo simples facto que sei que o meu marido é relutante a estas práticas (ainda tentei comentar o meu ponto de vista sobre a notícia mas a modernização dos meios de saúde veio a inferiorizar o que de bom e natural se pode fazer). Tive uma boa experiência no meu 1º parto (deitada) nunca cheguei a conseguir fazer dilatação de pé ou a andar, só me apetecia estar deitada, encolhida... Acho que deve de ser respeitada a vontade da mulher e ser contra ela de forma fundamentada por consistir risco para ela e bebé. 1º que tudo deve-se humanizar o parto, respeitar a mãe, não a reduzir apenas ao facto de fazer (ou não)força, não gritar, etc, como tantas mães se queixam, ás vezes parece que estamos para 2º plano e tornam o parto em algo frio e sem significado. Do meu 1º filho nunca cheguei a ver a placenta e estava tão KO quem nem me lembrei de pedir para ver e sei que isso nem é nada demais mas é das coisas que gostava de ter registado na minha memória, afinal foi a 'morada' do meu filho durante tanto tempo. É tudo feito ás pressas... Assinarei a petição ainda que não faço 'uso' da sua principal função.
Beijinho