sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

o parto nos média...

Obrigada CUF por ajudarem tantas pessoas. Quanto ao vosso vídeo comemorativo, gostaria de deixar umas notas... pois o vosso vídeo vai aparecer nos média e imprimir um efeito em quem o vê.

Compreendo que as situações apresentadas no anúncio foram durante muitos anos e são, ainda hoje, frequentes em muitas instituições portuguesas. No entanto, há já uma mudança de paradigma, não só nos desejos das mulheres assistidas mas também em muitos profissionais de saúde pelo país fora. As evidências científicas têm demonstrado consistentemente que há práticas obsoletas e prejudiciais que continuam a ser realizadas diariamente apesar da facilidade em ajustar os procedimentos ao que seria mais benéfico e harmonioso para o bem-estar da mulher e do seu bebé durante o nascimento.

Por isso é crucial divulgar algumas incorrecções para que as pessoas que visualizem o anúncio – que pretende exemplificar o decorrer de um parto normal – especialmente as nossas gerações mais jovens de mulheres, que um dia passarão elas mesmas por esse processo, percebam o que pode mudar no nosso paradigma atual, e que está ainda enraizado na nossa cultura e prática médica.
No anúncio mostra-se a expulsão do bébé no que parece ser um bloco de partos. A maior parte das mulheres pode e deve fazer o seu trabalho de parto e parto no conforto e intimidade do seu quarto de dilatação, onde o pessoal médico pode avaliar o processo periodicamente e a mulher pode manter a sua roupa, os seus acompanhantes e o mínimo de pessoal a observá-la. Só em casos de complicações é que há necessidade de o parto ser no bloco.
A posição em que a mulher é apresentada, litotomia, é na maior parte das vezes desconfortável e contraproducente para a expulsão. A mulher deve poder adotar a posição que sentir ser mais confortável, geralmente posições verticalizantes. Geralmente nestes casos, não é necessária a manipulação ou extração de bebé por parte do profissional, o bebé e a mãe conseguem fazê-lo autonomamente e no seu tempo. Desta forma, a mulher também não necessita geralmente, de ser "dirigida" como se ouve no anúncio. Ela saberá quando e como fazer força...
O bebé não precisa de ser levado para observação: esta pode ser feita com o bebé no colo da mãe se ambos estiverem bem. Procedimentos como a pesagem podem ser adiados para favorecer o contacto pele-com-pele da mãe e bebé, o que evita também a necessidade de colocar gorro, para que a mãe sinta o cheiro do seu bebé e evite o sobreaquecimento. O vérnix não deve ser removido pois é uma barreira protectora térmica e antibacteriana para a pele do bebé.
Os pontos positivos do anúncio foram:
Embora o parto fosse no bloco de partos, onde se encontram 5 profissionais, é possível e aconselhável a presença de pelo menos um acompanhante da mulher, tal como se encontra o marido no anúncio.
O clampeamento e corte do cordão umbilical foi feito depois de todo o sangue ter passado para o bebé (cordão ficou branco) dando-lhe as melhores hipóteses contra uma anemia precoce, melhor oxigenação e aporte das suas células estaminais. O clampeamento precoce pode privar o bebé de até 1/3 do seu volume total de sangue...
Para todas as mulheres que se queiram informar e fundamentar nas suas escolhas de parto. Parto tranquilo, famílias felizes e saudáveis.


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