quinta-feira, 27 de agosto de 2009

isto do dábliu-dábliu-dábliu... relato de parto da moyinha

Hoje recebi um email...
A avisar-me sobre um post...
num blogue...
Com um relato...
meu!

LOLOLOL!
Isto seria impensável há uns anos, quando nem computadores eram assim tão difundidos...
é um post copiado de um fórum onde eu escrevi o meu relato de parto, em que me confundiram com outra MJ. Mas já está tudo corrigido! ;)

Por isso, estive a pensar e, já que ponho tantos relatos neste blogue, é uma vergonha encontrar o meu em todo o lado e não aqui... (apenas tinha um link tímido para o mesmo noutro blogue no primeiro post deste blogue...). Então cá vai:

No início da gravidez pedi informações sobre os procedimentos nos Lusíadas, até agora no segredo dos Deuses, visto que fui lá seguida toda a gravidez, pelo Dr. Pedro Martins, um AMOR de médico!
O que se passou foi que apesar de termos podido falar de tudo com ele e de lhe termos entregue o plano de parto - que ele leu e disse que seria respeitado, se tudo decorresse normalmente - ele nos mandou discutí-lo com a Enfª Chefe do bloco para polir detalhes mais técnicos. Ora no geral a Sra. Enfª apesar de ser uma simpatia, estava mal informada sobre uns assuntos, foi preconceituosa em relação a outros e remeteu os restantes para o médico que me assistisse na altura.
Assim, fiquei com a certeza que "todos fariam o melhor" para que nós tivessemos uma experiência gratificante, mas vi que o meu plano não ia ser oficialmente aceite e que o pessoal de saúde ia andar a fazer "ping-pong" com o plano de parto até eu me fartar ou a minha Joana nascer.

Segundo o Dr. PM, iria fazer de tudo para que as nossas escolhas fossem respeitadas na altura, consoante o desenrolar do parto, mas o facto de não existir uma "oficialização" desse compromisso, fez-nos ponderar pela primeira vez a hipótese do parto domiciliar. Quanto mais liamos e sabíamos sobre esta opção, mais ela fazia sentido para nós. Falámos com vários casais que também tiveram esta experiência, a quem agradecemos do fundo do coração pela amizade, e então já o parto hospitalar nos parecia "fora do normal" e uma opção de último recurso.

O parto decorrente de uma gravidez saudável é um acto fisiológico, que pouco mais precisa que da grávida para decorrer.

Reunimo-nos com uma Enfª Especialista em Saúde Materna e Obstétrica (com mais de uma década de trabalho hospitalar e vários anos de prática domiciliar) e expusemos o nosso quadro clínico e o plano de parto. Visto que não íamos poder ter a experiência hospitalar que desejávamos e não tínhamos garantidas as condições para um parto "seguro" no hospital (porque a partir do momento em que nos começam a medicalizar e instrumentalizar, é uma bola de neve que desencadeia a necessidade de mais intervenções) decidimos explorar a hipótese do parto domiciliar.

Atenção! Até ao último momento, mantive em aberto a hipótese de ir para o hospital caso fosse necessário (i.e., se não me sentisse confortável com algo ou a parteira achasse que era o melhor) mas à medida que íamos tendo mais informação sobre os riscos e benefícios, mais convencidos ficávamos que isso estaria longe de acontecer. Graças a Deus que existem hospitais para quando há complicações, mas o parto é um processo fisiológico que se for respeitado é do mais simples que há (eu escrevi SIMPLES, não INDOLOR)

Com grandes remorsos, porque sempre o adorámos, deixei de ir às consultas do Dr. PM às 38 semanas, passando a ser seguidas em casa, pela nossa parteira: ela trazia o aparelho de CTG (tenho os registos de papel de recordação), o doppler e fazia o teste da urina com o papelinho das cores. Gostei muito de ser seguida por ela também (houve períodos em que era seguida pelo Dr. PM e por ela), porque nos mostrou como palpar a barriga para saber ver a posição e membros da Joana na minha barriga, algo que nunca nos foi explicado no hospital, mesmo com a eco.

Às 40 semanas (ironicamente num dia em que o Dr. PM não estava no hospital, ou seja, em que teria que ser assistida por outro médico caso lá tivesse ido parar), precisamente à meia-noite, a gravidez de baixo risco e vivida em pleno por nós estava a chegar ao fim!

00h00. Comecei a perder líquido: primeiro parecia urina incolor, uma colher, mas depois o líquido tornou-se de um rosado leve e a dúvida que o meu inconsciente repetia, tornou-se em certeza: tinha chegado a hora! Chamei o meu marido e beijámo-nos entre sorrisos.
Ligámos logo à Doula e à Parteira, nossas amigas e companheiras desta viagem, que me recomendaram que descansasse o mais possível para guardar forças para depois. Assim fiz.

00h30. As contracções começaram com duração e frequência inconstante mas consegui dormitar entre elas.

2h30. Acordei com uma contracção mais forte. Já não me apetecia estar deitada pois as contracções pareciam mais intensas nesta posição. Levantei-me e fui imprimir o plano de parto (já conhecido de todos, mas pronto) e escrever um aviso para colocar no patamar. Fui tomar um duche morno para acalmar as contracções e tentar dormir mais um pouco. O meu marido veio ter comigo e insistia que eu devia ir deitar-me "para guardar forças" mas nessa altura já não conseguia estar deitada. O meu corpo dizia-me que o t.p. já estava bem estabelecido (tive que ir ao wc 3 vezes em 10 minutos, para a necessidade nº2, LOL) mas nós continuávamos a pensar que ainda faltava muito.
Voltámos para a cama... Por pouco tempo.

4h. Já não conseguia estar dormir ou estar deitada, mesmo de lado. Levantei-me e comecei a preparar o local onde a nossa filha iria nascer. O meu marido ajudou-me a colocar a piscina de parto e o material necessário, e servia de intermediário entre mim e a Doula e a Parteira ao telefone. Vinham assim que quiséssemos mas assim que deixei de ter vontade de falar, perceberam que estava na hora de vir! Quando vinha a contracção só estava bem inclinada para a frente ou de quatro.

6h00. Elas chegaram. Como anjos da guarda. Guardiãs do nosso parto. Eu deambulava pela sala, as contracções só me deixavam deitar ou sentar por breves momentos. A Doula massajava-me as costas na zona dos rins e às vezes, as ancas, o que me trouxe bastante alívio durante as contracções.O uso de sacos de gel ou de sementes quentinhos nos rins eram uma maravilha! Enquanto isso, a Parteira e o meu marido enchiam a piscina. Só me apetecia entrar, mas tive que esperar estar mais cheia!

7h00. Entrei para a piscina. O alívio foi imediato e ainda consegui estar de barriga para cima por alguns momentos, mas a água acelerou o processo e apesar de maior alívio, também tornou as contracções mais eficientes: o ritmo e intensidade aumentaram. Nessas horas, em que perdi a noção do tempo, já nada importava a não ser ter o meu marido frente-a-frente e visualizar o processo de nascimento na minha cabeça: o colo a abrir, a cabeça da Joana a descer, a rodar, a sair... De joelhos na piscina e apoiada na sua borda, deitavam-me água morna pelas costas, o que me sabia muito bem. As contracções estavam mais intensas e prolongadas e lembro-me da preparação para o parto: "quando chegarem àquele momento em que pensam que já não aguentam mais, é porque estão mesmo quase!". Apeteceu-me gritar que já não aguentava mais, mas pensei: "e se depois me dizem que ainda falta muito? Não vou aguentar..." E então voltei à "partolândia" e comecei a falar com a nossa filha, pedindo-lhe ajuda para sair e acalmando-a.

Durante as 3h antes do nascimento auscultou-se o seu ritmo cardíaco várias vezes com o doppler e estava tudo ok. Nessa altura só pensava: bolas, se eu estivesse no hospital, não conseguiria fazer o que estou a fazer aqui: relaxar, gritar, e principalmente não estar deitada por estar ligada ao CTG! Não consigo imaginar ter que passar por tudo isto de costas assentes numa cama, porque, pelo menos para mim, as dores aumentavam exponencialmente!

8h30. E aí a água começou a ficar quente... quente demais! (apesar de na realidade ninguém a estar a aquecer). Num gesto, rejeitei a água morna que me despejavam por cima, e sem uma palavra sequer, a Doula percebeu e começou a colocar toalhas embebidas em água fria nas minhas costas: o alívio foi imediato. Passadas algumas contracções, comecei a sentir vontade de fazer força e então muni-me dela e rugi! E rugi! E senti o que a Parteira chamou o "anel de fogo", um ardor circular no períneo. Algumas contracções mais tarde e ouvi dizerem: "ena, tanto cabelo!!!". E num ápice, a cabeça saiu. Senti movimento e pensei estarem a apará-la, mas quando olhei para trás, não estava ninguém! Que sensação maravilhosa saber que era a minha pequenina que se movia para mim! Duas contracções depois e o resto do corpo seguiu a cabeça. Ouvi: "então?pega na tua filha!". Virei-me e sentei-me, segurando no meu raio de sol às 9h00, 9 horas depois de ter entrado em t.p. (e meia-hora depois de começar a gritar a plenos pulmões: não era só a dor, que admito que foi algo intensa, mas nada que não se aguentasse, especialmente com o apoio que tive, mas a vontade de fazer força: os gritos ajudaram-me a concentrar e a fazer força)...

9h00. O pai saltou para dentro da piscina e abraçou-nos. Ela olhou para nós como que ainda confusa sobre o processo passado, mas de olhos bem abertos, calma e alerta! 3,340Kg de gente! Eu só repetia: "já está! não acredito que a tenho nos braços!! é MINHA!"

Esperou-se que o cordão parasse de pulsar e o pai cortou-o. Dei imediatamente de mamar, o que estimulou as contracções para a expulsão da placenta, muito menos dolorosas que as do parto. E só 1/2h depois, a minha filha de Apgar 10 ao primeiro minuto, chorou, por largar a mama e ir para o colo do papá, hehe. Seis horas depois, a placenta nasceu, sem recurso a qualquer fármaco. Uns pontos depois, no conforto da minha cama e sim, com recurso a uma anestesia local, a minha filha e eu fizemos uma merecida sesta! A primeira de muitas!

Resta apenas dizer "obrigada". À minha filha, que esperou até estarmos "maduros" para vir ter connosco e por partilhar este percurso comigo; ao meu marido, que sempre me apoiou e me deu o incentivo que precisei para acreditar em mim; à minha Doula - Catarina Pardal, que me tratou como a uma irmã, filha, mãe, amiga... e me acompanhou desde antes da Joana sequer existir; e à minha Parteira - Ana Ramos, que se manteve vigilante mas silenciosa, encorajando-me sem me dirigir, para que eu pudesse fazer o que o meu corpo já sabia de forma inata.

Foi um parto. Não digo "natural", "humanizado" ou outro adjectivo qualquer. Nada pode descrever ou rotular a experiência que nos foi permitido viver. Foi:
- sem data marcada: a Joana é que escolheu nascer
- sem toques: não havia pressa para apanhar o comboio
- sem amniotomia: as águas rebentaram quando a cabeça nasceu
- sem drogas: estivemos sempre conscientes e alerta: a dor ajudou-me a posicionar o corpo para um parto rápido
- sempre com o meu marido: o meu pilar
- sem gritos que não fossem os meus
- sem palavras que não fossem de encorajamento
- sem agulhas (pronto, só uma, depois da placenta nascer, para a anestesia local e para os 4 pontos que levei)
- sem separações abruptas ou indesejadas
- com MUITO AMOR e CONFIANÇA

Tenho a agradecer também ao pessoal dos Lusíadas, que me recebeu de braços abertos quando lá fui mostrar a Joana e marcar a consulta do pós-parto (apesar da parteira também ma ter feito!).

Quanto mais se falar neste tema, mais mitos se vão desvanecer. E tal só pode ser bom, seja para partos hospitalares, domiciliares ou nas futuras casas de parto ou espaços que surjam: Haja informação para as pessoas poderem escolher em consciência!

Um grande abraço a todas as futuras e já-mamãs,
moya

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá,

já está tudo direitinho :)

Continuo a considerar o teu relato de parto mesmo muito inspirador. Obrigada pela partilha.

Tuo de bom

cm

Anónimo disse...

Olá,

já está tudo direitinho :)

Continuo a achar o teu relato de parto mesmo muito inspirador.

Tudo de bom

cm