domingo, 13 de maio de 2012

Mães. Todas diferentes, todas iguais.

Boas.
Más.
Carinhosas.
Exigentes.
Nossas.
Todos tivemos uma. E geralmente todas elas desejaram sempre o melhor para nós.
Mas o que é "o melhor"?

Não li livros suficientes sobre o assunto nem tenho muita experiência.
Sou neta de uma avó, filha de uma mãe e mãe de uma filha, o que já me dá alguma perspectiva.
Fui criada na óptica de "obedece, senão...". Mas tinha quem me tratasse como "deves fazer isto, porque...". E era desta forma que me sentia mais integrada, mais autónoma. Se por um lado sabia que havia consequências para as minhas acções (e nem sempre boas consequências caso desobedecesse a ordens), por outro gostava de ter uma palavra a dizer e de ser consultada na decisão. E mais facilmente (ou mais voluntariamente) acedia a pedidos explicados do que a ordens cegas.
De ler o artigo http://www.mindkiddo.com/apps/blog/comportamento-manipulador-nas-crian%C3%A7as, fica-se com a ideia de que as crianças são seres manipuladores e interesseiros e já nascem assim. Lamento desiludir quem assim pensa, mas há um começo para este comportamento e é pelo exemplo. As crianças em tenra idade (até aos 3 ou 4 anos) aprendem pelo exemplo. E o exemplo mais comum dos cuidadores principais que acreditam neste mito de manipulação é o de, eles próprios, quererem tudo na hora, e de à partida eles também manipularem a criança. "veste-te já!", "se não comeres a sopa toda, não há sobremesa!", "se não te portares bem, vem o polícia ralhar contigo!", "daqui a bocado já vamos ao parque" (quando se sabe à partida que nesse dia já não vamos), etc, etc, etc...
Como é que queremos que os nossos miúdos sejam anjos de obediência e assertividade e compaixão se não é esse o exemplo que lhes damos?... Aliás, porque é que queremos que eles sejam assim? (como uma amiga uma vez me chamou a atenção: "quando eles fazem o que lhes dizemos ficamos todos contentes, mas se eles fazem o que os outros lhes mandam fazer já não achamos tanta graça"). Como queremos que eles nos respeitem e cooperem se lhes damos ordens, os chantageamos ou até mentimos! ...E depois ainda os castigamos se não nos obedecem!
Acredito que - personalidades à parte - todas as crianças nascem com boas intenções.
Desde cedo que lutei contra a tendência da "manipulação". Sempre fui criada assim e bem tento respeitar os tempos e as vontades da moyinha, mas quando não há forma, às vezes acaba por ser "porque sim". Noto que ela geralmente acede de boa vontade quando lhe explico as coisas e ela própria já tem um sentido de lógica que me parece ligado a esta rotina (p.e., sempre lhe pedi que tirasse os sapatos antes de subir para a cama ou para o sofá para não sujar e ela hoje em dia já tira sem eu lhe pedir, mesmo noutros locais ou com outras pessoas). No reverso da medalha, não gosto de me impor mas também não me sinto culpada por fazê-lo em raras ocasiões. E geralmente peço-lhe desculpa durante ou depois do acto explicando-lhe que a mamã tem mesmo que sair, ou que atirar comida para o chão da cozinha não é aceitável porque depois vou ter que andar a limpar, ou tantas outras coisas que não são "certas" ou "erradas", mas fazem parte do meu limite actual como pessoa. Isso também faz parte da nossa responsabilidade enquanto pais, de fazer ver que há limites, que há atitudes que não são toleradas porque infringem o nosso bem-estar e o dos outros.
Gostava de ser como o vento que sopra nas velas de um barco: invisível mas impulsionador ou retardador. Deixar clara a minha preferência, mas ao critério da criança se faz ou não. No entanto, por vezes pergunto-me: se até os próprios mamíferos usam pequenos incentivos ou castigos para "ensinarem" as suas crias, não será apenas natural que possamos fazer o mesmo através de palavras quando eles já têm idade para perceber? (e mesmo que não tenham, vai-nos treinando a manter a calma e conseguir explicar as coisas de forma concisa e expedita).
Não sou muito boa nisto porque tenho pouca margem de manobra com os meus limites (algo que estou a trabalhar), mas tenho a benção de ter uma filha muito atenta e compreensiva, pelo qual sou muito grata.
Se ela vai ficar traumatizada com a minha educação?
Espero que sim. Eu fiquei com a dos meus pais mas não me arrependo pois aprendi a retirar ensinamentos deste meu percurso de vida com eles e a crescer com isso. E espero que um dia a minha moyinha questione os princípios que eu apliquei nela e, lá muito para a frente, diga: "a minha mãe era uma chata mas fez-me bem aprender aquelas coisas, mais que não seja, para não as repetir com os meus filhos".

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