terça-feira, 2 de agosto de 2011

E o que fazer quando o nosso mundo colapsa?

Quando o inimaginável acontece,
quando nos vemos face-a-face com os nossos piores pesadelos,
quando não há nada ou pouco que podemos fazer para voltar atrás,
sendo que isso é o que mais desejamos, ao ponto de revivermos uma vez atrás da outra os mesmo segundos que precedem o momento fatídico em que nos apercebemos que o pior aconteceu e o que poderíamos ter feito para o evitar?
Isso já me aconteceu uma vez. Com um animal de estimação. E não o desejo a ninguém...
Os dias seguintes foram insuportáveis: não conseguia comer ou dormir, quando acordava parecia que tinha sido tudo um sonho mau, mas quando me levantava apercebia-me que tinha realmente acontecido e até me faltava o ar. Nos meses seguintes doía muito, era uma dor fisicamente real: uma pontada no plexo solar, um aperto no peito, uma dor de cabeça que não passava. Chorei até não ter lágrimas, gritei até não ter voz, culpei-me a mim, ao meu companheiro e à estupidez que levou a que tudo aquilo acontecesse. Fez 5 anos no domingo que a tragédia bateu à nossa porta. A dor ainda cá está, mas enterrada fundo. Tento não pensar nela. Tento pensar que teria acontecido de qualquer forma. Tento iludir a mente de forma a que o coração não doa tanto.

E eis senão quando, me vi confrontada durante minutos que pareceram horas, meses, anos, com uma tragédia mil vezes pior. Por breves segundos desviei o olhar e num ápice a moyinha tinha desaparecido por entre um mar de gente num dos maiores centros comerciais de Lisboa. Primeiro achei que se estava a esconder, e procurei nos recantos mais próximos. Depois achei que teria visto algum bebé ou criança e ido atrás deles, mas não estava com nenhuma das famílias ao nosso redor. Com o chão a sumir-se debaixo dos meus pés, dei uma volta à zona onde me encontrava e consegui encontrar um segurança. Ele de imediato perguntou uma descrição da menina e forneceu-a à equipa de seguranças através do walkie-talkie. Eu queria correr, ainda gritei o nome dela uma série de vezes, mas o segurança assegurou-me que estavam a procurá-la e para eu ir ver novamente na nossa zona. Pensava em tudo enquanto vasculhava com os olhos o local, as wcs, as pessoas que passavam: e se ela tivesse descido de piso? e se tropeçasse numa escada? e se encontrasse um buraco num corrimão e caísse ao piso inferior? e se ficasse aflita? e se quisesse voltar e não conseguisse? e se... alguém pegasse nela e a levasse? Finalmente, o segurança veio ter comigo dizendo que tinham encontrado uma menina que correspondia à descrição. Mais do que antes, os momentos entre a notícia e o encontro foram pesadíssimos: embora eu quisesse correr, o segurança ao meu lado andava e eu só pensava: e se não for ela? eu sentia que era ela e que ela estava bem, mas e se não fosse ela?
Mas era. Estava na outra ponta do mesmo andar onde estávamos, num parque infantil, ao colo de uma monitora. Muito sossegada, sem preocupações. Quando me viu, veio ao meu colo e disse: "vamos brincar?"
Agradeci a todos do fundo do meu coração e abracei-a com todas as forças.
Não chorei antes porque precisava de me manter concentrada e com adrenalina para a procurar. Não chorei depois porque não a quis assustar, embora lhe tenha dito que tinha ficado muito assustada quando ela desapareceu e que devia dizer-me que queria passear antes de o fazer. Choro agora, porque agora sim posso ir-me abaixo enquanto ela dorme pacificamente.
Tento concentrar-me na benção que foi ter tido ajuda para a encontrar e na benção de ainda haver boas pessoas (houve muitas pessoas que tentaram ajudar sem ser os seguranças).
Não quero pensar na alternativa porque dói demais.
Mas houve uma consequência negativa: obviamente não ia esconder este facto do pai da moyinha. Contei-lhe tudo ao final do dia e ele culpa-me do sucedido e deu a entender que sucedeu porque eu deixei e que se tivesse acontecido algo menos bom ele "desaparecia" porque toda a nossa vida teria colapsado.
WTF?
Por mais que eu o recriminasse (na minha cabeça e algumas vezes directamente) nunca saí de ao pé dele quando a primeira tragédia aconteceu (ok, foi "só" um animal). Obviamente tento pôr-me no lugar dele e acho que também ficaria muito abalada com o sucedido e provavelmente também lhe apontaria o dedo. Mas desaparecer? Isso não a traria de volta. Se calhar não ia querer olhar para a cara dele (nem ele para a minha) durante uns tempos, mas "desaparecer"?
Este tipo de situação pode acontecer a qualquer pessoa, em quase qualquer local. Basta um segundo de distracção. Acho que depois das "culpas", iamos precisar do suporte um do outro para superar a situação, para reunir forças para achar uma solução, ou nem que fosse para chorar o sucedido.
E no entanto, eu estaria sozinha.
O que diz isto de uma relação?

1 comentário:

Saphira disse...

Ola amiga! Tenho estado p falar ctg e agr vim ver o teu blog e descobri o q se passou ctg, imagino q deve ter sido horrivel, eu às vzs sonho q perco a Catarina e são verdadeiros pesadelos! Acho q temos q estar sempre com atenção, mas mm c mta atenção às vzs pode acontecer se desviarmos o olhar uns segundos a criança desaparecer, é mt fácil, estão sempre a correr e são baixinhas, facilmente desaparecem no meio da multidão. Graças a deus, já passou e vais ficar uma mãe ainda mais forte e experiente com o q se passou. Em relação ao q se passou ao marido acho q mais vale esperares um tempo e dps falarem nisso... ainda é mt cedo, n te preocupes tanto! Beijinhos p os 3 ;)