sexta-feira, 23 de março de 2012

Declaração da Ordem dos Enfermeiros relativamente aos partos domiciliares e Recomendações da MCEESMO relativamente ao local e tipo de parto

A O.E. emitiu ontem (22Março2012) o comunicado que exponho abaixo.
E tenho que me retratar porque no post anterior dizia que a Ordem dos Enfermeiros não iria defender o parto no domicílio e GRAÇAS a DEUS, 3 dias depois vejo-me a desmentir o que escrevi! HURRAY!
Dou-lhes os parabéns, mas também lhes digo que já vem tarde (e tão esperado que foi!!). E que acho as recomendações da Mesa insuficientes, mas que espero que seja o começo de grandes mudanças positivas no panorama da escolha informada dos casais em Portugal.

Desde há pelo menos 5 anos que o parto no domicílio tem sido uma opção crescente e recorrente aos casais que optam por ter filhos (apesar dos números estarem camuflados pela estatística) e é uma pena que só agora comecem a sair recomendações e notas quanto a esta opção.
Pessoas que vêem outros panoramas no estrangeiro, pessoas que se informam das mais recentes evidências científicas ou pessoas que simplesmente não se revêem no modelo actual de assistência ao parto nas instituições de saúde são as que optam por este tipo de parto. Muitos casais (nós incluídos), optam por um parto domiciliar depois de ponderar vários factores, de ler muito, de falar muito com outros casais que tentaram ou conseguiram ter este tipo de experiência e que até procuraram ser ouvidos nas intituições de saúde a que recorreram, através de conversas com os profissionais e da apresentação de plano de parto. Quando verificaram que não havia abertura para o parto desejado, voltaram-se para a alternativa. Pelo contrário, também conheço vários casais que simplesmente não se reviam num parto hospitalar e apenas um parto domiciliar fazia sentido para eles...

De qualquer das formas, quando um casal opta por um parto domiciliar (sendo que num futuro próximo gostaria mesmo muito que também se pudesse optar por uma Casa de Partos no nosso país), tem o direito de ser informado sobre os riscos e benefícios desta opção e não ser criticado por ninguém se a tomar porque há inúmeros estudos recentes que demonstram a segurança da escolha deste local comparativamente às instituições de saúde (porque os ESMOs - enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica - tanto podem atender no hospital como no domicílio). E é bom que haja uma Ordem a dar a cara por isto...

 Aguardo com esperança e expectativa, novas recomendações, mais completas e descritivas porque as que foram liberadas ontem (http://www.ordemenfermeiros.pt/comunicacao/Documents/2012/Recomendacao_MCEESMO_localparto_Mar2012_VF.pdf) são um grande avanço mas deixam muita coisa indefinida... Espero sinceramente que não seja só uma recomendação paliativa para "inglês ver" e que se instituam normas a ser adoptadas num futuro bem próximo... Não pretendo com isto "cuspir" neste GIGANTESCO passo que já foi dado, mas mostrar que ainda há muito a fazer... Se compararmos as 2 parcas páginas sem qualquer referência bibliográfica destas recomendações com p.e., as que existem na Austrália (26 páginas) vemos que ainda muito se pode fazer...
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*Partos em casa motivam campanha de desinformação sobre competências dos enfermeiros especialistas*
Lisboa, 22 de março de 2012 - Em resposta à posição inusitada do Colégio de Especialidade de Obstetrícia / Ginecologia da Ordem dos Médicos sobre o parto no domicílio, onde declaradamente se ataca a dignidade dos Enfermeiros Especialistas de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica e se questiona a habilitação e legalidade do seu exercício profissional, vem a Ordem dos Enfermeiros esclarecer o seguinte:
Desde 1996, ano de publicação do Regulamento Profissional dos Enfermeiros, que os enfermeiros não trabalham sob supervisão médica.
Desde 1987 que a formação dos Enfermeiros Especialistas de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica cumpre as normativas europeias, razão pela qual se encontram certificados, habilitados e autorizados a exercer em qualquer Estado-membro da União Europeia.
Neste enquadramento, a sua área de actuação engloba o planeamento familiar, o diagnóstico e vigilância da gravidez normal, a realização / prescrição dos exames auxiliares de diagnóstico para a vigilância da gravidez normal, o estabelecimento e realização de programas de preparação para a paternidade e para o parto, a assistência e realização do parto normal, a vigilância do puerpério normal, assim como o cuidar da puérpera e do seu recém-nascido.
A conceção, a gravidez e o parto são fenómenos fisiológicos e, por consequência, naturais. Por isso, não devem ser desnecessariamente medicalizados. O parto é um processo natural que surge como término de uma gravidez que dura entre 38 e 42 semanas.
A Organização Mundial da Saúde calcula que cerca de 85 a 90% das gravidezes terminem num parto sem intercorrência e sem necessidade de intervenções médico-cirúrgicas.
Contudo, o parto deve ser encarado como um acontecimento que, como qualquer evento no ciclo vital do ser humano, contém algum grau de risco. 
É para nós evidente que o aumento do número de partos no domicílio em Portugal está muito relacionado com as expetativas e a falta de resposta dos serviços de saúde às opções assistenciais que as mulheres / casais grávidos desejam ver asseguradas num momento tão importante das suas vidas – o nascimento do seu filho.
Consideramos, pois, fundamental:
• a escolha dos profissionais que acompanham a vigilância da gravidez, do trabalho de parto e puerpério;
• a garantia de uma filosofia assistencial que respeite o processo fisiológico da gravidez e do parto;
•  um ambiente de nascimento confortável e que possibilite a vivência do parto como um acontecimento familiar;
• um acompanhamento profissional regular, personalizado e de proximidade, que respeite a privacidade e a liberdade de escolha suportada em decisões informadas.

Atualmente, a possibilidade da escolha por parte das mulheres / casais grávidos em relação ao local do parto / nascimento dos seus filhos, é uma realidade, incluindo o parto no domicílio!
A Ordem dos Médicos, nomeadamente o Colégio de Ginecologia / Obstetrícia, nunca quis discutir esta problemática, sendo visível agora o seu desconforto quando se evidencia um “novo” paradigma assistencial, requerido pela sociedade civil, em termos de escolhas / opções que se movimentam com direitos e argumentos perfeitamente aceitáveis e justos em termos dos seus cuidados de saúde.
Quando se afirma que os enfermeiros que estão a promover o parto no domicílio são «pessoas pouco qualificadas, sem qualificação nenhuma ou escassa para poder assistir ao parto de forma autónoma e muito menos para assistir ao recém-nascido», gostaríamos de reafirmar que os enfermeiros especialistas em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica são os profissionais de saúde melhor qualificados em Portugal para assistir o parto normal e não trabalham sob supervisão médica.
Como demonstração de que nem tudo é perfeito nas maternidades apenas recordamos as elevadas taxas de cesariana e de indução de trabalho de parto actualmente praticadas no nosso país – valores inaceitáveis aos olhos da Organização Mundial de Saúde, da Federação Internacional de Ginecologia / Obstetrícia e da Confederação Internacional de Enfermeiros Obstetras / Parteiras.
A Ordem dos Enfermeiros e a Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica lamentam a forma pouco séria como este assunto está a ser debatido na comunicação social e estão disponíveis para esclarecer e informar o cidadão e discutir esta problemática, em conjunto com os demais interessados, organizações profissionais de saúde e sociedade civil.
Com o intuito de contribuir para a capacitação das mulheres / casais para escolhas informadas decidimos publicar também «informação / recomendações à grávida / casal sobre o local do parto, tipo de parto e nascimento dos seus filhos» – um documento produzido pela Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica da OE.

O Bastonário da Ordem dos Enfermeiros,
Enf. Germano Couto

2 comentários:

Anónimo disse...

Se a ordem dos médicos ou o colegio de ginecologia/obstetricia não quer discutir este tema de parto domiciliar ou natural, então estão a perder credibilidade.
Para mim não faz sentido ser submetida a intervenções médicas/cirurgicas sem necessidade, sem justificação e sem explicação, por isso apoio o parto 100% natural porque respeita a fisiologia do parto, e facilita o trabalho de parto que o bebé também tem que fazer, o bebe é o protagonista, é ele que provoca e orienta o parto.
Uma mulher pode fazer cessariana se quiser, porque é que uma mulher não pode escolher um parto natural?
O sistema nacional de saúde esta ao serviço da humanidade (parturientes) ou é o contrário??
Eu grávida escolho o parto natural porque é o mais seguro para mim e para meu bebe, porque quero ter privacidade, quero ser respeitada, porque meu filho mereçe nascer com dignidade, paz, porque NAO AUTORIZO intervenções médicas/cirúrgicas desnecessárias, sem justificação que só servem para atrassar o parto, porque meu corpo não está ao serviço do hospital, é o hospital que deveria estar ao meu serviço, etc....
Escrito por Paula Correia, médica veterinária.

moya disse...

Olá Paula! Bem haja pelo seu comentário e por seguir o blogue :)
Realmente há muitos interesses por detrás da medicina hoje em dia... Mas quero acreditar que há ainda bons profissionais e profissionais, que por não se manterem actualizados ou nunca terem assistido a partos verdadeiramente fisiológicos, acham que na verdade o parto fora do hospital ou sem as intervenções de rotina é realmente perigoso. As suas intenções são boas: são as de salvaguardar a mãe e o bébé (e também a eles próprios, no caso de um processo). por isso é que é tão importante trazer este tópico à baila, para que as mais recentes evidÊncias científicas sejam do conhecimento de todos, para que se avalie em verdade os riscos associados a todas as intervenções ou não intervenções. Assim, os profissionais poderão estar mais descansados e dar mais liberdade à mulher, e as mulheres terão mais autonomia para decidir em consciencia e não na política baseada no medo...
Ainda por cima, esta questão só resurge quando há algum problema num parto domiciliar. É pena que quando há problemas no hospital, não se faça uma análise idónea da questão para evitar riscos. O que é certo é que erros acontecem, no hospital e fora dele e gostaria que houvesse bases claras e transparentes tanto no parto hospitalar como no domiciliar para que não se diga mais tarde: "eu não sabia, pensava que era assim"...
Um abraço e espero mais comentários seus!